É estranho. Alguém precisa dizer isso sobre mim então eu vou dizendo. É realmente estranho a rapidez em que meu desejo aprende a desejar aquilo que realmente nem quero. Tem uma coisa de não poder nunca perder que faz meu desejo dar forma a si próprio quando, por acaso, perde a forma que tinha. Entende? Suponhamos: eu quero esse sorvete negro e cremoso. O sorvete passou por mim, mas foi voando. Não deu para falar oi, nem para degustar. Sobrou em mim o tal sorvete apenas como imagem do desejo que um dia, eu penso, vou morder tocar comer espremer experimentar. Mas passou. Então o desejo do sorvete cremoso e negro faz o quê? Ele morre? Que nada! O bandido toma outra forma e eu passo a desejar a grama verde regada a orvalho primaveril. Assim, de um súbito segundo a outro muda o meu desejo o seu rosto. E não há férias nunca. Eu sempre estou desejando. O desejo sempre consumindo meu corpo nesse seu amorfo jogo sem acordo.
Por quê? Por que não me perguntam se eu topo? Eu não toparia. Eu virei ciranda sem destino. Eu não valho nada. Nada. Bosta.
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