Acordei banhado pela luz
De um dia que ainda desconheço.
Luz branda e opaca,
Clara mas repleta de escuridão.
Mirei à janela
E vi que chovia.
Estiquei-me na cama
E fui enfrentar as notícias
Deste dia que não acaba já faz séculos.
Tudo igual, porém diferente.
Os mesmos buracos
Os mesmos humanos
Dementes. Só se agrava.
Fiz um café, não foi preciso
Regar as plantas. A chuva da madrugada
Lhes deu esperança.
Café na xícara
Jornal celular nas mãos.
Amanheci com essa imagem
Roubando-me de mim
Sequestrando minha atenção:
Uma linha de lama
Grafando caminho
Na geografia do meu país
Até chegar ao mar.
Espírito Santo!
As notícias são as mesmas
E o homem de novo não cessa
De se despedaçar.
Penso nas esperanças, penso firme
Eu penso, nas possibilidades já tornadas
Mudança.
Mas é só que não há nota sobre isso
Nos jornais do hoje em dia.
Só o que há são as mesmas
E mais profundas corrupções.
Como amanhecer assim?
Como se erguer pensando em vida
Se só o que há é essa persistente
Azia?
Dormir, talvez? Talvez devesse eu
Voltar a dormir?
A luz branda me anuncia a jornada
Para tempos como este: há que se cultivar
A consciência com tons de opacidade.
Há que se ver o mundo profundo, mas
Sobretudo
Há que se olhar para o mundo
Com o descaso de quem já partiu
De quem parte,
Não, não serei rima
Da fome que a todos engole
E extermina. Permanecerei sinuoso
Despresente numa ou noutra rua
Só para que mais tarde
Na solidão de casa
Possa eu refazer o mundo
Que seja hoje
Em poesia.
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