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domingo, 15 de novembro de 2015
desumano semblante
veja esta imagem.
ela escreve mais que uma epopeia.
ela manifesta, inteiramente,
a humana miséria.
neste olho esquerdo
neste focinho a lama
banhado, vejo o meu tempo
tempo de homens
desumanizados.
ainda que o gesto
seja o de apoiar
o cão rosto
sobre a humana mão
ainda assim
o homem perdeu
o homem morreu
e já morto
segue aos mortos
assassinando.
me faltam palavras
a poesia ficou bruscamente frágil
a dor é tanta
que a perplexidade assume
o rosto e o gesto de cada
ação,
não sei como me posicionar
não sei como chorar
como lavar, como ajudar
como fazer, meu deus?
como lidar?
vejo este olho desse cão
e ele me condena
com paz e leveza
ele me devolve
à triste e humana
inconsistência.
poderíamos ter sido melhores
poderíamos ter sido outra coisa
hoje, no entanto,
só o que me sobra
é essa dor constante
tenaz
dor justa
apesar de tão seca
e rouca.
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