A cidade tem mais serventia.
A fachada do hotel
Soa menos imponente
E quem dá vida ao dia
Dorme logo na calçada
Jogado ao chão
Ali em frente.
Daqui onde estou
O cheiro da cidade
Tem meu perfume
Com notas de café.
Daqui onde estou
O menino que passa
Entre os carros
Tem a face vermelha
E fortes braços.
Eu não me sinto longe
Mas me vejo distanciado.
Haverá um modo de mirar o mundo
Sem que seja lhe esfregando a mão?
Talvez não.
Por que não?
O corrimento da vagina rua
O falo edifício das instituições
Tudo lá fora hoje me soa mais
Como relevo, quase decoração
Não.
Daqui onde estou
É mais fácil o perverso
E barato jogo da definição.
Não.
Daqui onde estou
Em temperatura controlada
O mundo através da janela
Não me comove
Não me convoca.
Só mesmo o corpo em esfrega
Poderia mudar o meu tom ao mundo?
Por que anseio dizer distinto
Por que anseio corpo no concreto
Se já é hoje tudo tão duro
Tudo duro hoje já tão improfícuo?
Desejaria ser rua para abrir caminho
Ou para desfazer os sentidos que já me dei?
Perdi a poesia quando sai daqui
Onde estou. Perdi os versos e a precisão
Das rimas brandas. Perdi tudo quando
Assassinei a prudência da distância:
Escrever o mundo não cabe em outro lugar que não seja na ponta da caneta sobre a folha branca em prancha.
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