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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Carta ao amor perdido


(Não vou usar uma letra para simbolizar seu nome. Você sabe que é para você, então continue),

Isso não é uma carta de despedida. Não houve encontro, logo, não temos como fazer uma despedida. Melhor assim, para você, pior para mim, como sempre. Eu prometo que serei sucinto. Mas também se for preciso ficar horas a te escrever, é porque assim tem que ser. É uma carta. Eu não quero saber se você conseguiu ler ou não. Se fosse um telefonema, um encontro, um café, eu seria obrigado a olhar para você outra vez. E sem dúvida como em tantas outras vezes eu em você me perderia. Estou sendo frio, envio essa carta nem sequer escrita à tinta. Ela é toda virtual. Tão virtual quanto fomos um para o outro.

Nos desenhamos muito em nossos sonhos. Mas na cama, na lida de cada dia, eu nem sequer sei sua pele de cor. Eu nem sequer sei das suas teimosias. Somos virgens um ao outro. E eu queria ter mais motivos para te ter aqui, sendo mastigado e digerido. Isso é o que é o amor. A gente se perdeu muito rápido. 

Ofende-se? Não o faça. Somos isso que não somos. Somos o que perdemos a oportunidade de ser. Eu e você agindo juntos acordando os corpos antes do amanhecer. Éramos o que poderíamos ter sido. Mas tudo em vão. Essa carta - e-mail - reforça a nossa condição. Já somos seres completamente perdidos. O que nos une de certa forma é apenas um ou outro gemido.

Sim. É verdade. O que eu me pergunto é se tudo deveria assim ter sido. Desculpe-me, mas preciso te perguntar: quem criou em você esta idéia de que é preciso elogiar, de que é preciso prometer, de que é preciso dar uma troca como pretexto para o amor? Não deveria. O amor é sim feito de trocas. Mas trocamos aquilo que temos em mão e não o que gostaríamos de ter. Você me trocou por utopias, trocou-me você por qualquer coisa tipo carnaval, coisa com brilhantina. Não deverias, de fato. Isso dói tanto mais, isso coloca o outro - eu! - coloca o outro num embaraço terrível que soa a desespero eternizado. Eu já não te quero, e como se isso fosse pouco, nem mesmo quero a mim.

Sim, está ruim desse jeito. O que fazer? Vai desenhando seu destino que eu vou aqui descolorindo o meu. Eu rindo de mim mesmo e achando uma ousadia ter sentado num blog para escrever essas realidades. Eu não quero comentários. Se alguém aqui quiser nos comentar, que seja apenas para dizer como essa pessoa foi escrota como ela o fez sofrer. De quem estamos falando? Inevitavelmente sobre mim sobre você. Até porque, não há mais nada além de nós.

Somos o tronco, a corda, o laço, os nós. Somos palco aberto ao fim. Queres ir primeiro? Queres rasgar sem mim? Ou posso ir na frente? Posso ir na frente? Ou tu queres partir junto?

Até não mais ver,

Diogo.
 

Um comentário:

Luciana Nepomuceno disse...

Cheguei aqui por acaso e este texto me comoveu como se arrancasse minha pele. Em carne viva.

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