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quarta-feira, 10 de setembro de 2025

azedou feio (incapaz do fogo)


que era triste
sabíamos
antes mesmo
de acontecer

era preciso
ter acontecido
mesmo que turvo
mesmo que
era preciso
e aconteceu

passado o passado
o presente desembrulhado
fica um hálito ruim
de extremíssimo
cansaço

fino e pontiagudo
sempre que me lembro
de ti é sobre nós
o murmúrio
do desentendimento
ter vencido

sabíamos disso
no ato
em que nos
apartamos

quando digo
a mim que não
não quero mais
você
digo porque sim
não quero mais
sua amizade

azedou
como disseste
azedou feio
brabo
azedou ruim

sua presença
o mero pensar
em ti
no que é seu
do gesto à festa
do medo à testa
tudo seu
me dá nojo

e é vivo
tudo isso
menos ideia
e mais
estômago

eu estou
te odiando

e é ruim
mas está certo
era isso o que
aconteceria
nós sabíamos
desde aquele
telefonema escroto

onde perdeste o amigo
em vez da lacração
de seu orgulho tísico
e superior-anêmico
de ti a distância
agora é pouca

e que gaguejes
e tropeces
e que invente verbos
ladeira à vista
peça desculpas
forçosas e muitas
mas só ao tempo

nem ele te aguentaria

a casa resta inerte
a cozinha fechada
seu filme
que não é seu
sua mentira
deslavada

que horror
que horror
não ter dito não
quando você entrou
forçoso
querendo brilhar
na peça dos outros

que horror tudo isso
aquilo que eras
incapaz
apesar do esforço louco
não conseguiste
apagaste o fogo
 

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