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domingo, 29 de setembro de 2024

A decisão acertada

Foi mesmo ter decidido parar de falar de si.

Ao menos por um outono
(que dia é hoje?)

Foi bom tomar essa decisão
porque antes era como se fosse
sempre
e nunca
tudo assim tudo
tudo assim indiferente
afinal

era sempre sobre ti
sempre acerca do senhor
sempre no seu entorno
sempre somente a sua dor

a ponto de nem mais ter dores inéditas
eras tu próprio a dor personificada.

Depois da decisão, entretanto, tomada
outros ventos vieram
outras praças em festejo
o antes deixou de sempre
o nunca morreu batendo os queixos

Você percebe?

Falar do mundo
não é perder a si mesmo.

Falar do mundo
não é calar-se, coitado
ele foi impedido.

Do mundo, falar dele
é como dedicar-se a uma oração
que de ti só precisa da fé
nunca da sua história.

É mesmo com alguma indiferença
que a vida brota e brota.

Nunca dantes, perceba, falamos tanto
em vida, nunca dantes falamos tanto
neste plural.
 
Tomaste mesmo a decisão acertada, jovem
(era preciso dizer)
 

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