lento
Apenas imagino
estar assim
meio vago
meio lá
meio ao meio
Imagino a possibilidade
de ter perdido
alguém
Imagino a realidade
que se hoje
é real para tantxs
ainda não o é
para mim
Olhos empoçados
um silêncio tremido
não há volta
nós sabemos
o mundo segue
em precipício
Por tanto imaginar
realizo
eu trancado em casa
eu atento às mãos
e suas máscaras
eu com medo
e, sem dúvida,
com a paz trêmula
dos privilégios
eu por poder comer
por ter casa onde dormir
eu por conseguir trabalhar
eu por ter dado a sorte
de continuar e
entre atos
reclamar do cansaço
que é não poder sair
Imagino
como quem vislumbra
outro dia
imagino
saídas, fugas, voltas
imagino rimas e risos
imaginaria
não fossem cem mil pessoas já partidas
Se cem mil se foram
quantas mil pessoas
ficaram
quanto mais que mil
ficariam?
inertes?
imberbes?
irritados e chateados
impossível alavancados
ao quê?
a quem?
O dia demora a passar
a noite dança intrépida
meu desassossego
não sei
olha, eu não sei
viver nestes tempos
não têm sido bacana
nem leve ou bonito
vivo o medo.
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