Permitiríamos, então, que algo falasse.
Nem antes, nem muito depois.
Seria num instante breve
num momento intempestivo
em que a honestidade
fosse a medida exata
para os seus gestos.
Observaríamos, somente.
Sem nada dizer ou condenar.
Ficaríamos assim como estamos.
Quase inerte
acompanhando a vertigem
de uma tentativa de confissão
que provavelmente não viria
que, é provável,
não virá.
Seria preciso outra sequência de noites.
Outro amanhecer e outros mais.
Seria preciso desistir de você
para que algo saltasse
comovido
de suas entranhas.
Algo como o necessário.
O vital, exclusivo extrato
de um instante hoje soterrado.
Algo saltaria de ti
comovido, repetimos entre nós,
ele precisa nos dar algo
comovido.
Você nos olha na vertigem da sua insuficiência.
Você não serve para nada
nem ninguém
Você sabe disso
você é feito da destruição também.
Não durma,
um de nós te provoca.
Não durma agora,
não durma.
Você chora.
O que a gente deseja é apenas essa sua confissão.
Não é pedir muito, é?
Seria?
Você não responde.
Você hoje não existe assim tão possível.
O seu cansaço, um de nós diz,
o seu cansaço é o seu respiro.
(Talvez pudesse parar de respirar).
Você pensa
e é possível escutar seus sonhos.
Algo a me dizer?
Algo para mim?
Você grita.
Nós, puro silêncio.
A você?
Não.
Nada.
Nada assim tão determinante.
Algo?
Você grita.
Nós, nem movimento.
Quando tiveres algo necessário a ser dito
a ser feito
Você abre a boca e confia.
Por agora, no entanto, tudo aquilo que te faz existir
é só essa sua profunda agonia mesquinha.
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