Pesquisa
terça-feira, 30 de agosto de 2016
aquilo que eu (não) poderia te dizer
está tudo bem, mesmo, pode confiar
eu poderia (não) te dizer que se trata de nós dois
mas sim do mundo
de todo o mundo
eu sou parte disso
você também
mas é comigo
(não) é só comigo
(não) poderia te dizer que se trata de alguma mazela psicológica
(não) estou de luto, mesmo, (não) estou
não estou
não estou
eu poderia te dizer que é preciso tempo
um tempo (não) meu
um tempo (não) do universo
um tempo (não) entre a gente
que é preciso um tempo de sono
de silêncio
de desistência
tempo de nada a fazer
nada a ninguém
nem a si mesmo
(não) há paixão
(não) há retorno
(não) posso te dizer
o que carrego comigo dentre tantos parênteses
(não) é bem medo
(não) é mesmo
(não) é culpa de ninguém
como pode?
ser culpa de ninguém
(não) ser culpa
essa poesia (não) é sequer aquilo que sinto
estou sentindo tudo truncado
mas é claro
tudo me é claro
tudo (não) me é claro
vês?
dentro do meu silêncio mora em abismo um lago
retinto
sujo
até bonito
mora em mim
um mistério que não acaba
um silêncio que não quer se grito
uma confissão exasperada
de quem não está sabendo
viver bem nem contigo
nem consigo
nem com esse mundo abuso
mundo bruto
mundo rude
mundo morrido.
sobre o processo de impeachment
sábado, 27 de agosto de 2016
Atenção
Fazes aquilo que desejas
Do modo como queres fazer
Dança a música solto e sem confusão
Dança até quando há silêncio
Em você.
Fazes tudo do jeito que precisa
Mesmo quando há tanta indecisão.
Atenção
Cuidado
Tu podes vir a morrer
Na própria mão.
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
A Força
Diz-se que está lá fora.
Eu olho pra janela
E o que vejo é só um dia
Amanhecendo.
Volto ao dentro
Eu, sempre insatisfeito.
Pondero um instante:
o que há lá fora é só o dia amanhecendo.
Haveria de existir algo mais?
Eu me condeno.
Não.
Lá fora o dia amanhece
Entre preguiçosos raios
De sol. Falta o quê?
O que precisa faltar?
A Força que antes não me veio
Chega tímida sem bater na porta
Ave silenciosa
Calor morno
Toda calma.
Concluído.
sexta-feira, 19 de agosto de 2016
Fim Deste Blog
Este blog acabou.
Não mais sscreverei nele
AO MENOS
nele não mais escreverei
Sobre os jogos de amor.
Pequenas Coisas
Na curva em declive
Do meu amor por você
As pequenas coisas
São as que me fazem
Não mais te querer.
A cabeça dá golpes.
Eu, golpista,
Fugindo do amor
A mim destinado.
Eu fraco
Eu frágil
Eu forjando desculpa
Para o caminhão
Do amor seu
Que me atropela.
Quisera eu saber
Como faço para te evitar
Sem deixar de te ter
Eu sem deixar você
Eu sem te abandonar
Eu sem te machucar.
Seria preciso eu sem mim.
Você comigo e eu sem mim.
Posso com isso?
A confusão que me abate não faz sentido.
Sinto-me mais jovem
Do que eu era quando te conheci.
Sinto que não sou responsável
Por quem eu cativei.
E você, tão lindo,
Merece isso?
Eu não me mereço
Por que haveria de me merecer você?
Durmo intranquilo.
Cirurgia
Sair da cidade
Levar umas roupas
Levar dois livros, apenas dois
Abraçar alguns amigos antes de partir
Não levar telefone
Carregar no bolso tantos dinheiros
Será isso.
Antes de partir,
Rasgar a agenda.
Pagar as contas que vencem
E se esquecer das que vierem.
Reunir as plantas do apartamento
No centro da sala. Regar todas elas
E se desculpar, informando que você irá
Partir sem saber quando voltará.
Abrir a porta.
Sair andando.
Nunca mais voltar.
Alguma tristeza, algum cansaço
Sei que é variável
Isso de certo, bom
Ruim, errado.
Sei que nada existe
Exceto o tempo.
Ainda assim
Aqui me venho
Tramando verbos
Para tramar
Cuidado.
Estou exausto
Exaurido, estou cansado.
Triste sim, triste enfim
Eu precisava escrever isto
Para pensar, enfim, o que
Fazer de mim.
O amor morreu cedo.
Minha desconfiança antes
Ao outro destinada
Hoje me consome.
Não confio
Nem pondero
Perder-se em mais um você
É deixar de ser.
Sou brusco.
As palavras me atropelam.
Sou roto
Sem rito
Sou torto
Cansado de estar cansado
Nem bem mais me sei.
Meus poemas
Que não são meus
Podem nunca findar.
E eu?
É querer demais
Se perguntar?
Que faço eu?
Que faço eu comigo?
Ouço as músicas
Danço envolto em solidão
Não, não sofro
Talvez seja esta minha potência
Minha constante revelação.
O mundo me machuca mais do que antes.
Hoje, mais que antes,
Eu amo a solidão.
Ela é quem me compõe.