Acontece que acontecem
Instantes em que nada
Acontece
Instantes em que nada
Acontece
Seria possível?
O sol sobre a minha pele
Algum tímido vento
Ouço sons, mas tudo distante
E então a noite
Escurecendo a possibilidade
De alguma mão
Me arrasar.
Algum tímido vento
Ouço sons, mas tudo distante
E então a noite
Escurecendo a possibilidade
De alguma mão
Me arrasar.
Dia seguinte, disse a si mesma
A relva: é possível ser
Mesmo sem ninguém
Ou coisa alguma
Me tocar?
A relva: é possível ser
Mesmo sem ninguém
Ou coisa alguma
Me tocar?
Sol vento som vento
E nenhuma mão.
E nenhuma mão.
No silêncio as perguntas ganharam peso.
Será possível? A relva se perguntou
Ciente de que já fazia dias
Sua pele era apenas verde sozinho
Verdade sem teste
Dormente do que ainda
Não veio.
Ciente de que já fazia dias
Sua pele era apenas verde sozinho
Verdade sem teste
Dormente do que ainda
Não veio.
Noite após noite
Foi-se perdendo
O veludo
A graciosidade
Ficou seca
Morreu a vaidade
E, por fim, dormiu.
Foi-se perdendo
O veludo
A graciosidade
Ficou seca
Morreu a vaidade
E, por fim, dormiu.
Dia seguinte
O sol às vezes amanhece atarefado
Raios sonoros e esquentados
Abriram os olhos dela
Relva sem rumo.
O sol às vezes amanhece atarefado
Raios sonoros e esquentados
Abriram os olhos dela
Relva sem rumo.
Ela sentiu a própria pele
Ela sentiu na pele
O abrupto toque de um tiro
Dado ao longe
Ela sentiu na pele
O abrupto toque de um tiro
Dado ao longe
Não viu se alguém morreu
Mas nem precisava
Pois sobre a relva pele
Tudo entrava
Mas nem precisava
Pois sobre a relva pele
Tudo entrava
Feito tiro
Tiro feito bala
Tudo a acessava
Até a solidão virar verde exposto
não desespero.
Tiro feito bala
Tudo a acessava
Até a solidão virar verde exposto
não desespero.
Hoje a relva ciente de si
É mais porto do que barco
É mais certeza que convicção
Ela sabe
Sente e por isso sabe
É mais porto do que barco
É mais certeza que convicção
Ela sabe
Sente e por isso sabe
Que se não vier mão
Veio desde sempre
O tempo
Veio desde sempre
O tempo
Descrito em frio e vento
Desenhado em raios solares
E sonoros
Desenhado em raios solares
E sonoros
Eu, relva, hoje sei:
Ser paisagem e não embarcação
Passe a mão por mim, ó, tempo
Passe-me suas mãos.
Passe a mão por mim, ó, tempo
Passe-me suas mãos.
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