Talvez sua descrença nas coisas todas
tenha te impedido de escrever
as próximas rimas.
Sinto que é isso:
dureza não no corpo
dureza não na agilidade
dos dedos caçando letras
mas dureza última
no espírito.
Perdeste alguma doçura
perdeste tu o mínimo
que é saber enrubescer
com o mínimo
com o mais delicado
com o ínfimo.
Faz já um tempo se acostumaste tu
à completar os buracos.
As covas então se fecharam
a vida virou jogo pernicioso
que não tolera a falta.
Mas ora, desde quando
o que há não é apenas isto
a falta?
Por que foi que você se acostumou
à coxinha?
Desista disso.
A sua cova íntima
é o espaço onde sobrevive
a sua capacidade
de ser afeto e enzima
A sua capacidade
de ter fé
em tempos tão turvos
e de desconfiança.
Secou.
Então regue.
Secou?
Então deixe-se
molhar
deixe-se molhar.
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