Antes do dormir
Me veio um sobressalto
Afinal, pensei
Como fui eu quando não tinha ainda
Alguma consciência dos fatos?
Imaginei minhas pernas gordinhas
Imaginei a boca suja de papinha
Imaginei a textura do carrinho
O cheiro da fralda branca
O choro (já deve ter havido tanto choro)
Que me fortaleço só de pensar
no que vivi sem saber que estava vivo.
Lembro-me ainda mais
(ou apenas mais imagino)
Dos toques
Das pegadas no colo
Dos passeios
E do nariz roncando fininho
Deve ter havido muita coisa
para que eu chegasse aqui.
Depois pensei inda mais
Pensei na mãe
No pai e nos irmãos
Pensei em quantas festas de aniversário
Quantas idas e vindas da creche
Da escola
E nesses 27 anos
Ao menos uns 13 ou 14
eu consigo mais ou menos
Descrever.
Por que tudo isso?
Pela beleza apenas de reconhecer
que passa o tempo
E sobrevive o corpo em uso
Em padecimento
E o pensamento
Hoje alado
Segue a vida
para além do prazo estipulado.
Que poesia é esta
A de estar vivo
Sabendo-se disso
Ou não.
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