Nem sei por onde começar. Talvez falando a palavra que pouco uso: desculpa. Desculpem pela dureza do meu gesto. Quando quero acenar um "oi", quase sempre meu gesto é como um adeus. Quando tento nos reaproximar, eu me afasto ainda mais de vocês.
Dilemas de um pai sem preparo. Gastei a vida tentando me preparar para o ofício que lhes pudesse dar todo o amparo, mas me perdi de vocês. O cansaço me roubou as horas em que pensaria em nosso abraço. Perdi tudo, meus filhos. E as palavras em busca das quais tanto corri só me servem hoje para desenhar o meu terminal retrato.
De que valeria a poesia se tão distante da vida já me coloquei? De que valeria a sinceridade do beijo ou a prontidão dos corpos aos abraços se eu me embrueci de tal forma que só me resta a solidão?
Dizem que um novo ano é capaz de renovar as coisas todas. Mas não somos coisa, né? Uma pena. Seria mais fácil passar um pano e limpar o terreno, mais fácil seria reverter todo o esforço já feito e sorrir juntos o que ainda não veio.
As palavras saem de mim numa velocidade que quanto mais ágil se faz mais a mim me afasta. A vida segue e eu na beira dela quase sumindo. Se tento dar adeus ao que não quero mais, é como se dissesse "aproximem-se, meus inimigos".
Uma tristeza tenaz me mantém de pé e ainda. Sou burro e ciente da burrice minha, tenho meus preconceitos listados e a vaga lembrança de alguma coisa capaz de destruí-los. Talvez, meus que tanto amo e a quem não sei dizer, talvez o seu sorriso possa me corromper.
Eu lhes peço - e isso provavelmente não será o que irão vocês compreender -: não me deixem. Por enquanto, basta lembrar de mim, um telefonema, qualquer afeto mesmo que à distância.
Do seu pai, tremendo pai.
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