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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Passagem

Chove
Um ônibus passa lento
Um carro apressado
Algumas vozes
Não sei o que dizem
A fome
O frio
Um tonel de duros fatos.

Bebo
Fumo
Como se não houvesse amanhã
E não há
Não agora.

O que resta
Sobrevive
Ainda é alguma capacidade
Humana para fazer o mesmo
De outra forma.

Duro impacientado
Por aqueles que fingem
Dialogar com minha dor.

Quisera eu pôr fim
Ao que não acaba hoje
Nem ontem acabou.

Oh, futuro
Quem te inventou se o que há
Ainda é apenas este continuum?

O corpo

Ele me chama
Para tentar de novo
De outra maneira.

Assim não vai dar
Ele me diz que assim
Não vai durar muito.

Penso se quero mesmo durar.

Mas percebo que mesmo
Em fim o corpo é sempre
Convite. Do nascer ao despedaçar.

Os hábitos. Os vícios. O ser humano.

É possível outra coisa?
Outra coisa esta pela qual
Eu tanto luto?

Redemoinho. Neblina. Está o corpo
Gripado. Está fraco o corpo. Ele hoje
É todo cansaço.

Posso dormir?

Ele me pede
Sempre com educação.

Posso?

Eu demoro. Eu dou voltas.
O que falta a mim
Para reconhecer
Minha condição?

Queria um dia morrer dormindo.

domingo, 29 de novembro de 2015

cavalier



eu queria mais uma vez deixar marcada
a lucidez que me deturpa, a coragem
que me mata eu queria deixar aqui
registrada. em alto volume eu canto
o meu cavalheirismo
de impávida lírica
tenaz morticidade
eu queria mais uma vez deixar marcado
o meu eterno desassossego por ser
sempre embaraço
sempre nobre
até e sobretudo
na falta de sorte