Pesquisa

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Tesão


Dos filhos é o mais ousado
o que dá mais trabalho
o que me impede de dormir
De todos eles é o que dá mais trabalho
sempre tudo é pouco
sempre muito é quase nada
Por isso, hoje, filho meu
eu te abro ao mundo
te corto e revelo sua cara
para que não me consuma tanto assim
e se entretenha
com os outros
que mirarem seu rosto
e rirem da sua cara.
Conseguirás aguentar?
O desafio é todo seu.
Mas saiba:
te amo,
caso isso ajude em alguma coisa, saiba:
te amo com a força
ainda sequer inventada.

http://desesperandogodot.blogspot.com/

oras

eu quero dizer,
você poderia ter se machucado...

eu ainda posso.

não é isso
eu estou falando
por que você anda o dia inteiro nu,
sem cuidado?

está calor. você não sente?

sinto.

e o que você faz?

não tem jeito.

não tem jeito?

não.

e o que você faz?

como assim e o que eu faço... para com isso.

com o quê?

com esse jogo.

você não gosta?

não. não te entendo.

te assusta?

o quê? o que é que me assusta?

o não saber.

como?

o não saber.

me assusta? sim, me assusta.

e o que você faz?

não tem jeito.

não. você faz sabe o quê?

o que é?

você condena.

eu condeno?

você condena.
tudo aquilo que não compreende.

para com isso.

o pior burro é aquele que não quer aprender.

espera!
você me chamou de burra.

você se chamou de burra.

não reverta o jogo.

que jogo?

para.

o quê?

deixa.

não tem jeito, né?

é.

então me abandona. vai.

[...]

agora você emudece, viu?
talvez esteja aprendendo alguma coisa.
eu me vou.

sábado, 27 de novembro de 2010

Mutilo

Mudo ao som do sonífero
Subo à cama e dela despenco
rumo ao mais profundo
abismo

E fico,
nas horas sigo entretido
Que pode haver na escuridão
que já não seja sabido?

Fui eu quem me mordeu primeiro
Eu quem primeiro maculou meu sorriso
Eu quem antes de ti já me tinha partido
Eu, antes da mãe e do pai
que na manhã domingo
quebrei o predileto brinquedo
eu que me fiz fome
e me dei sede

Eu que me trouxe a doença
eu que me afastei de ti
Pelo quê então posso ser rendido?

Se dentro da boca
conservo a carne dela mesma em pedaços
Pronto para saciar
esta fome que não me abandona nunca
Este silêncio que sei desde antes
carregar preso dentro do umbigo

Este vácuo, ouve?
A vacilar em meio a tantos risos
que em mim mutilo
para nunca deixar de duvidar
da perdição que é escrever
o próprio destino.