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sexta-feira, 30 de abril de 2010

E Instaura a Rima.

Porque depois de você,

cabelos ruivos rimam só contigo
prédios altos também me levam a isso
e tem você presa em objetos
você rimando a cada verso meu
e hoje são tantos
feitos para você…

Instaura a rima porque se olho o céu vejo primeiro você.

E depois você me fica nos olhos copiada
e a sacola voando entre os prédios da cidade é sobre ti
a nota no jornal sobre outro caso se inspira nisso
e se me olham meio entristecido eu rimo você
outra vez sempre que falam a palavra destino
dentro de mim você grita como fosse rima terminada em ar
rima do verbo amar
rima do verbo partir
rima do verbo lançar

Percebe como a morte instaura a rima em certos versos
ou melhor, em certas esquinas
tornando a fuga incapaz
Percebe?

Mesmo em versos brancos
pálidos de solidão
mesmo assim eu neles me olho
e recebo você de súbito
transfigurada.

A morte é a rima mais popular
pois não bastasse rimar com tudo
ainda tranquila rima com o nada.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

A Morte Instaura a Poesia.

Você que acessa esse blog, por favor, não vá achar que o autor está depressivo ou tomado por certa fixação sobre a morte. Isso seria verdadeiro, mas o reconhecimento ameniza a potência da busca. Sobre finitude, a busca é essa. Pensar sobre ela, desenhar a partir e flertar com as surpresas que nascem desse encontro, mal tenha se rompido a manhã. E desde então, fugir do fim, fugir da morte, fugir do óbvio. Para ser inevitavelmente tragado de volta. Como tivesse tudo isso sido recreio, mas agora não, agora é preciso olhar para o fim a morte e enfim aceitar que sim, a finitude está na morte.

Mas, e sempre um mas haverá, seguindo pela cidade dentro de um ônibus, pesando o olhar dentro de um óculos prendendo as lágrimas, eu comecei a pensar que o fim é tudo que não apenas o fim. Pensando sobre como o fim não termina nada, apenas muda a forma, o meio, a linguagem. Você que um dia foi atirada, que se tirou de mim, morrendo a si mesma você não instaurou o fim, mas fez abertura infinita e maior que nossas próprias vidas. Você naquele dia ao se morrer instaurava com sua morte a Poesia.

Gastarei os últimos dias deste mês investigando rapidamente as figuras de linguagem sob a ótica da poesia que instaura a morte. Nenhuma metáfora é segura, nem eufemismo, nem mesmo eclipses, aliterações, hipérboles… Tudo jaz agora resignificado, porque o fim é outro, o fim é outra coisa que não unicamente ponto final. Fim tem asas, turbina, não cabe em porta-retrato. Isso é nítido? Seu esboço é possível?

Quem morre instaura em quem fica a sua constância, não mais pelo encontro corpo-retina. Não acham? Quem morre instaura via poesia a eternidade, via metáfora se multiplica em toda parte. Via aliteração, faz morte com medo martelo mentira mito memória mãe mão e moletom. O fim se multiplica em poesia e por isso sobrevive, porque existe além de si mesmo. Eterniza-se concreto via inconcretude. O fim é irredutível como certeza de que não haverá o retorno do que se foi, mas é pela esperança constante e contida em versos que sua irredutibilidade é amenizada, e de eterno dispersamos o luto daquilo que se foi multiplicando sua desgraça. A morte nos tira um corpo mas nos devolve o seu mistério, a sua aura.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

do verbo e agora, josé?

o telefone tocou no meio da madrugada. era um familiar próximo dizendo que outro familiar, mais distante, havia morrido. como? meus olhos meio que nem sei se abriram, mas respiraram perplexos. como isso? gente. gente. e uma série infinita de lamentos. ok. ok. desliguei. deitei sobre o colchão jogado no centro da sala. senti o vento frio da noite me cobrindo por inteiro e penso agora, fim concreto. sem teatro, sem revolta, sem saída. fim do verbo conjugado terminar. do verbo ir sem mais voltar. do verbo se vira ai quem fica. do verbo e agora, josé?

pensarei em você. hoje. nas memórias mais antigas, de quando a vi pela última vez a qual já nem lembro mais. eu cresci, eu sumi. você seguiu e agora se foi. que irônico que em nossos encontros você tenha deixado em mim um esboço de plena atividade. sua vida se consome porque me parece, eu intuo, eu sinto, eu sei, tinhas um vasto sorriso. e ainda tem. ainda terá. aqui. pleno. seguro. protegido. feito eterno, assim lembrança.

não mais.