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quinta-feira, 31 de julho de 2008

Achei uma carta suicida no meio de minhas coisas

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Não me deixe muito no alto
Nem me afogar
Não me deixe chegar ao topo
Porque eu posso me matar.

Minhas pernas doem profundamente.
Temo que queiram de mim se desprender.
Seria a vontade de o mundo correr?
Ou somente o desejo de morrendo elas primeiro
Levarem-me a isso também querer?

Então, eu peço:
Não me deixe chegar alto demais
Nem me deixe afogar meu corpo
Fique paciente ao meu lado
E não saia sequer para buscar
O copo de água que irei pedir
Inúmeras vezes
A você
Que me acompanha noite adentro
E dia a fora.

No alto eu posso me afogar
E me afogando eu posso despencar
Portanto
Não me deixe subir muito
Nem muito descer
Segure a minha mão
E tente me fazer
Compreender,

Porque desejo neste momento
Ir me perder.

As coisas que guardo aqui dentro
Querem todas me consumir.
Os medos que disse não temer
Corroem-me no silêncio
Que escolhi para mim.

Portanto se eu disser
Tudo está bem
Não acredite tão facilmente
E cuide de mim como fosse
Um neném.

Cuide de mim, por favor.
E não deixe meus cabelos caírem sobre os olhos
E não deixe a minha pele secar
Nem meus sonhos queimarem
Nem o riso sumir
Cuide de mim!

E me perdoe. Sempre.
Perdoe-me por fazer ser a prova do seu amor
Por mim
Essa tentativa vã
De não deixar o tempo me consumir.

Perdoe-me por tudo e sempre.
Mesmo quando ausente
Perdoe-me do que posso vir a fazer
Do que posso vir a comer
Achando que a fome é capaz de matar
E não de me fazer crescer.

Eu cheguei ao topo
Não posso nem mais ir
Nem sequer voltar.

Estou preso na quantidade funda de ar que me fiz respirar.

E todo o resto é pouco
E capaz de matar
E todo o resto é muito
E capaz de matar.

Estou no meio, pois partido.
Estou no limbo, pois me precipito:
E escolho as melhores dores
E revolvo aos antigos amores
E faço assim o dia ser pesado
E os músculos escoriados
Não agüentam o ônus
De ter que levar adiante
O que jaz morto
Mas em mim persiste.

Perdoe-me. Desculpa,
Eu já não sou capaz.

Fui noutro momento.
Fui com outro sorriso
E com outros remendos,
Que já não posso refazer
Pois a linha se perdeu
E cravado em agulhas estou.

O corpo sinaliza a dor
Segundo após sentido
E perder-se se torna algo tão natural
Pois também o natural eu preciso.

Então,
Se por acaso ao topo demais eu chegar
Acaso ao fundo eu me aproximar
Puxe-me pelos cabelos e me faça voltar

Caso não,
Aceite minhas desculpas
E me deixe morrer
Para não mais me encontrar
Para não mais me perder.
...
..
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Rio, 18 de junho.

Como eu me sinto por dentro

A vida às vezes é como um jogo.

Aí você surge, tudo ao redor despenca.

Nada para me dizer, mas ainda assim, você consegue

Me afastar de qualquer e todo medo

Porque me faz acreditar.

E é isso. Eu nunca senti nada parecido.

É desse ineditismo que eu falo.

Como foi quando me senti seguro, mesmo despido.

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Isso que eu acabei de escrever não sou eu. Foi uma tradução simultânea. Ouvindo uma música e escrevendo o que ela parece dizer, após filtrar-se por meus ouvidos, após filtrar-se por meus sentidos. Sentimentos.

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Não quero mais brincar disso. Dói. Porque eu invento rosas que não existem. Invento dores que depois em mim persistem.

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Outro dia sabe como me senti? Me senti feito uma placa retorcida de um metal qualquer. Metal duro, liso, cortante. Mas qualquer. E essa placa, esse eu, foi atropelado. Uma vez. Depois várias. E várias vezes por rodas de um mesmo carro. Por partes de um mesmo corpo eu fui estuprado. E então o dia fez-se em sol. E eu já ali confuso, vi-me distante. E lá de cima, pude ver. Estava mesmo colado ao chão de asfalto. Era quase todo negro. Porque o calor me derretia aos poucos e os atropelamentos me fixavam e não me deixavam respirar. Os atropelamentos faziam com que, vez ou outra, o sol eu não pudesse ver. Eram a minha dor, a sua causa, e a minha calma, a minha escuridão e lucidez.

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Outro dia uma mulher passou por mim chorando. Fiquei parado depois que ela por mim passou. E nisso ainda pude ouvir seu dizer: Eu quero morrer. Eu quero morrer.

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terça-feira, 29 de julho de 2008

Terreno Baldio - 2ª Tentativa

Eu morro pelo nome. Meu peito não está vazio, meu terreno não está baldio. O que tenho em mim persiste feito doença. Cura-se a todo o momento, mas volta mal se passa o vento. O que tenho dói e me engasga. Remói e me atrapalha. Impede-me de ver o que acontece diante de meus olhos. Já nem posso mais ver você. Apesar de estar contigo a todo o instante.

Eu sedio em mim a dor. Eu a aceito com prazer. Aprendi a me ver no doer. Sempre sofrendo, sempre gritando e gemendo. Uma hora ou outra era de se esperar que a lágrima forçada coincidisse com a facada. Hora ou outra não me seria surpresa caso o roxo da pele se parecesse com o espancamento em reunião de família.

São tentativas. Porque as coisas estão quebrando e quando eu penso costurar algum caco, um corpo frágil despenca noutro lado e me deixa assim, com esse ar inacreditável. Inacredito por não compreender como amor em ódio pode se converter.

Eu largando os vícios. Eu revendo princípios. Mas para quê? As coisas estão morrendo e já não existe o meu eu com inúmeros você. Ah, é dor. Estou sabendo nesse momento o que é dor. Não mais pelo nome, não pelo efeito, a dor que apreendi agora tem a ver com o peso do peito com o trincar dos dentes e o gritar do silêncio. É frio incomensurável e solidão angustiante que me faz pescar em cada esquina um anzol que me extravaze. É poesia. É culpa. É liberdade. Expiação...