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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

3.110

o verso
se não arruma
a vida o verso
ao menos
ele disputa
com a ignorância
e faz saber
que se não é isso
poderia ser
ter sido
poderia aquilo
ter assumido
o controle
desta vida

quis dizer que sim
fez diferença
sua dedicação
faz diferença
você me pergunta
se sim e eu não hesito
sim, sua dedicação faz
diferença

anda cá
o homem à direita diz
em voz amena
anda cá
e é no cá onde agora
estamos
o que vês
foi uma pergunta
o que vês?

o outro responde
que não consegue ver
direito, mas que talvez
talvez, ele diz, o outro
talvez seja
(como é que chama mesmo?)
foi uma pergunta
ninguém o responde
o que estava sentado
ri atrasado

o nome que ele procura
é três milhares
são três
ou é três
três milhares cento e dez
o outro corrige
o outro concorda
o outro celebra
é sempre o outro
nunca o si mesmo

e isso tudo de poemas?

essa palavra estranha

(poemas?)

e quase todos sem sacada alguma
quase todos sem nada exceto isto
isto?
isto
isto mesmo
isto
percebes?

eles balançam a cabeça
os olhos quase fechando
ainda o sono
ainda a vida
ainda haverá pranto, caro poema, portanto
segure firme
esperamos que demore
mas segure firme

se não sabes amar a vida
não me peça para destruí-la
a fim do seu divertimento
se não sabes, não me peça
aprenda a
aprenda
 

não um flanco

e, honestamente, este vinho
há de colocar o mundo embriagado

envolvido em versão
instrumental
talvez houvesse menos tiro
menos morte
com que força o homem pode
destruir tudo
ou quase tudo?

um cansaço ancestral
coisa antiga e de antes
tomba sobre o mundo
nesse exato instante
e pronto
já não seria possível destruir nada
nem mesmo este
segundo

lento
como quem sono
ou sina
a paz alada pousa
sobre as chaminés
e faz imensa
cinza

que volteia
dentro
de cada casa
que volteia
entre as esquinas
de cada avenida
um cansaço
um sono
uma vontade de ter as chaves
para desligar a guerra
a rima
a sina
desautomatizar tudo

veja

como é bom
um segundo
nada do outro
saber

como é bom
e é bom
como é
isso
dessa tranquilidade
de confiar
que a morte viria
desde dentro

uma febre
não um flanco
não um flanco
que paz
que sono
que vinho
que tanto