Pesquisa

quinta-feira, 7 de março de 2024

desvio


meio vesgo confesso
o mundo assim hoje
o vejo como se não 
ousasse confiar que
a vida é escrita por
vias tantas que
mesmo a turvidão
era possibilidade

tento com esforço 
aceitar que agora
meus interesses
são estranhos 
a quem vinha eu
sendo mas como
saber que sou isso
ou era mesmo aquele

postergo a confirmação
sigo sendo estranho a mim
mesmo que eu possa me
apaixonar por esse novato
mesmo que possa voltar
ao poço fundo dos meus 
saudosos hoje antigos 
desejos mesmo assim

queria eu confiar que a mudança de fato fosse um virar de páginas como quem sem querer rasga um livro

marcado ele continua 
escrevendo outras cenas 
 

Esquecimento

Não que fosse um caso de acúmulo.

Havia era mais esquecimento. 

O tanto já feito era lembrado
apenas como o tanto já feito;
já sem peso era esse tanto, 
tanto e ainda assim sem desejo. 

Teria percebido assim que a vida
isso de estar vivo e à vida cosido 
que a vida seria algo então como
esquecimentos sucessivos. 

Vivemos para soterrar os acontecimentos vividos. 

Vivemos para superar a própria vida, não há mais dúvidas quanto a isso. 

Inventado foi que havia um sentido 
Um propósito, uma seta, um desenhado ímpeto, mas não 
Só o que havia, apenas o que haveria, 
Era mesmo isso: esquecer-se

Até já não mais lembrar, 
até já não precisar mais ser
nem aqui estar. 
 

sábado, 2 de março de 2024

tão mais


embarcar no belo barco furado
na pressa de um qualquer hábito 
não perguntarias sobre o remendo
que viste na carcaça ali colado 

o naufrágio anunciado
a sua tenaz indiferença 
a vida em aberto não te interessaria 
preferes já estar morto

a não ser que o cansaço 
subitamente assim viesse
e sobre ti tombasse sem
piedade e então 

Tu abandonarias essa viciada sina de imaginar aquilo que não tem fundamento 

Não tem.