A pele é coberta. Não por si própria. Algo deve haver para que quando assim, sobre ela, ainda que não se veja, não se toque, se possa sentir isto que sinto.
A possibilidade de não falhar consigo mesmo. Sonho caminhando rente ao dia a dia. Dizer sim e não, também, dizer que não, agora não. Dizer aquilo que o corpo disse. Tradução de difícil ordem.
Tem uma pele sobre a pele do corpo que me preenche de sorte. Que me arrepia com delicadezas profundas e distintos. Quando me sinto assim em mim acolhido não é porque em mim o mundo não se encontre, mas é apenas porque esse tipo de encontro te faz ciente de si, dos seus tamanhos, menos e maravilhas.
Não, não digo nada assim tão legível. E não importa. Hoje eu sobrevivo envolto em calor extra sol.
Hoje eu sobrevivo porque um suplementar imanente me traz com cuidado ao degrau do chão. Hoje, como ontem, como noutros dias, eu vivo o encontro mínimo com devoção infinito.
Eu estou vivo.
Pesquisa
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
Algum tipo de tecido
Sobre a poesia mudar o mundo
Por favor, Diogo, já passou da época de você compreender que algumas coisas são força de expressão e outras modo de viver a vida. Você se condena de vir a esse blog escrever, em versos, lágrimas e lamúrias sobre a sua própria vida, como se poesia fosse restrita aos grandes eventos da condição humana. Você, de alguma forma, diminui com tenaz facilidade aquilo ao qual seu gesto se destina. Registrar em versos a própria vida é desde já modificar cada evento vivido. E mais: quem dera fosse a poesia apenas isso. Quem dera ela não vivesse no seu modo de olhar, nas palavras que você recita num simples conversar com amigos. Poesia é postura ao mundo posicionada. É tudo menos julgamento de valor, é tudo menos publicação, poesia é tudo desde que ao ser feita e quando feita estiver possa a poesia moer os humores dos humanos corações.
Por hoje será assim.
domingo, 31 de janeiro de 2016
Se eu pudesse
Trataria de arranjar outros começos
Cessaria de fazer poesia a qualquer instante
Não mais usaria rimas e no lugar dos hábitos
Eu seria todo desejante.
Talvez fizesse mais.
Talvez rasgasse dinheiro
E comesse não só as unhas das mãos.
Talvez eu começasse a aprender
Como se faz para sentir atração pelas árvores
Talvez domesticasse uma cobra vermelha escarlate
Talvez, se eu pudesse,
Essa música eu cantaria o dia inteiro
Talvez virasse cantor
Talvez me desse um emprego
Tal como os moços que trabalham em conduções.
Não que eu não pudesse
Não que eu não queira
Mas talvez
Por tanto postergar a mudança
Ela um dia me venha mais inteira
Abrupta e súbita
Me venha a mudança
Tremenda e sem passagem de retorno.