Pesquisa

sábado, 1 de dezembro de 2012

as unhas

ficaram deitadas
e imóveis
pelo chão da sala
como fossem
sortes que não deram
certo.

as pontas
dos dedos
todas
carcomidas,

enquanto dentro
de mim
uma satisfação tão plena
uma tão longa avenida.

silencio,
para ouvir o fim do dia
aportando tranquilo:

eu poderia estar ao seu lado
não fosse meu corpo
inda tão cheio
de espinhos.

ofício

em uma linha
o resumo

para me manter vivo

esforço-me
perduro
desentretido
a mirar olhares
mirando passos
vendo mistério
onde há apenas
sem gracidão.

o meu ofício
faz algum tempo
serve apenas
para me deixar
mais tempo
aqui imerso.

neste instante
em que a vida
lá fora
escorre
deitada
e imóvel
em esquinas
de asfalto
queimante,

neste instante em que a morte
adormece
e acorda
se faz lembrar
e se faz forte

neste momento
em que a poesia
é apenas um esconderijo
egoísta
e despropositado,

eu me vejo
sobre corpos
talhando passos
insinuando sinceridades

eu me vejo
trabalhando
apenas para me deixar
menos fraco
me deixar
mais capaz
de sobreviver
ao inevitável
corte

que faz a vida
a todo o instante
faz a vida

sobre ricos
e sobre pobres

limpando dicotomias
e instaurando
enfim

tempo.

primeiro de dezembro

falta insulina
ao corpo dormente
sobra poeira
pela casa
sobra sujeira
entre os dentes

na cozinha
o café estala
queimado
os biscoitos
amolecem
solitários

no banheiro
o cheiro
atravessa
os azulejos
tudo negro
tudo negro

na sala
a cadeira
está bamba
se foi sofá
se foi televisor
somente um pelo de gato sobrou.

a morte veio
e me levou daqui

ficaram lembranças
de coisas ainda por vir

a morte veio
e me tirou de casa

bom é bailar
sem mão que interrompa
o desejo
de ser esquecimento.