Pesquisa
sábado, 2 de abril de 2011
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨Trema
tá fazendo café na cafeteira
tá batendo coração no peito
tá correndo sangue na veia
tá saindo preguiça do corpo
tá nascendo poesia no tempo
tá rompendo espinha na pele
tá vivendo morte no enterro
tá trocando marcha no carro
tá passando o cartão na máquina
tá subindo andando na rampa
tá subindo parado no elevador
tá subindo intenso no sexo
tá cheirando alho na boca
tá cheirando perfume na nuca
tá tudo assim acontecendo
e eu aqui sem onde aportar
toda essa trama
todo esse sonho
vou comprar chocolate.
sexta-feira, 1 de abril de 2011
Luto
Eu me convenci muito rápido do que seria preciso,
e hoje, me vendo assim a duvidar disso tudo
eu fico sem saber se devo ou não devo
me declarar luto.
Morri sem saber.
Morri sem ter sido atravessado.
Morri pior, morri abrupto
mas sem piscar quebrar nem mudar os passos:
a vida seguiu tranquila depois de minha retirada sem grito
depois de minha derrota sem vergonha.
Eu fui sem pedir licença
mas não houve ninguém a quem pudesse pedir:
posso ir? Me deixa de mim partir?
Não. A natureza ao redor esteve esse tempo todo empreguiçada.
Eu me olho hoje no espelho e compreendo
palavras palavras vocês não me fizeram nada
exceto me perder de mim.
Por isso eu decreto hoje Luto
para tentar deslizar sobre o meu corpo
enrijecido
para tentar abandonar o verbo
e voltar a me ter só comigo.
Eu morri com a boca cheia de vocativos.
Mas e da voz?
E do sorriso?
Ninguém ousou dizer palavra.
Com os outros tudo é assim comedido.
Só eu talvez que tenha ido
na dança letrada investido
na dança letreiro perdido
crente num nome
mas de mim vazio.
Oh, Verbo!
Por que diabos eu preciso de ti
para dizer o que eu quero?
8898
você aqui que não é número
você aqui que lê o verbo e contempla ai
preso no seu segundo
como pode ser alguém que venha aqui disposto
a te fazer sorrir?
este sou eu aqui, que não sou número
este sou eu aqui a procura do teu íntimo
fazendo versos e costurando ousadias
tudo tentado para te trazer de volta a si
tudo para te causar de novo azia.
sim, não somos números, mas
a sua constância é feito tempo contado
a sua presença é silêncio que afaga
e que enfim faz viver um dia.
sim, eu sei, não somos números
mas eu posso contabilizar seus dentes
seus sustos e sobressaltos
eu posso listar preciso o tamanho do amor que sinto por ti
quando tu passas por mim e me deixa nada mais que um lapso seu
perdido no ar
feito atmosfera
feito clima.
eu não sou número
tu não és número
mas é nessa matemática
do não-ser
que fazemos acontecer a vida.