Pesquisa

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

EMBARGADO,,

toca, despertador
que antes de você acordar
eu já estava vivo e desperto.

toca, infeliz dos diabos
toca essa sua sinfonia sinistra dos tempos
refaz no ar o seu sempre mesmo gesto

que eu estou acordado e flertando o mundo,
sempre novo
sempre novo e cada vez mais indigesto

vai, vê se toca
que eu danço sobre o seu resto
que eu danço em protesto velado
não quero hoje ter hora
não quero ter resultado

hoje eu quero persistir tentado sobre aquilo que me embarga o peito

persistir sobre aquilo
sobre isso
ISSO que falo,

leviatã

MINHA BOCA QUASE SANGRA
POR CAUSA DOS SEUS BEIJOS

QUASE DESPENCA
POR CAUSA DO SEU JEITO
A MINHA BOCA
(nu seu queixo)
QUASE QUE SE ENROLA
QUASE QUE SE MORDE
QUASE SE PODA POR TUDO
QUE SE PASSA EM NOSSOS PEITOS

E SE SE ENGASGA
E SE SE EMPLASTRA
(para se tentar salvar)
JÁ NÃO IMPORTA
POIS BOCA MINHA INDA TE ARROTA
E DEVORA
E TE DEVOTA MAL SE FAZ NOITE EM DIA

É

POIS É

MINHA BOCA
QUASE HOJE SE FEZ EM MEMÓRIA
QUASE HOJE MINHA BOCA FOI SUA
SOMENTE SUA
GEMENTE NUA
VIVA E SEM PELE
MINHA BOCA
AGORA GRITA E SUA
AGORA GRITA ENQUANTO A TUA,

desce para dentro de mim em movimentos peristálticos
para saciar este instante. já ido.

        

then one morning

e eu ainda nem dormi. o dia não acordou, veio junto comigo, preso no olhar e na persistência das vagas. em alguns dias, tudo o que eu quero é fazer poesia. é ir com a palavra amando o mundo e dizendo as coisas, aumentando suas cores, intensificando horrores, indo embora, sem nem saber de nada.

hoje que ainda é ontem – porque não houve sono – eu estou de pé sentado ante ao computador. eu aqui escrevendo outra vez uma sempre nova e idêntica história de amor. amor meu sobre as coisas. amor meu sobre os segundos. sobre a chuva escorrendo rala e lambendo a minha face e o moletom do peito fazendo trepidar o sentimento logo assim amanhece o dia. que dia!

o sol cortando as pernas e esquentando as mãos. sombra. nada demais, tudo como já é. mas se avanço as mãos para perto da janela, sinto inevitável o sol lá de cima esquentando o meu corpo aqui embaixo. é disso que eu falava. é disso que não se é capaz de dizer que eu estava falando.

e agora, essa música indo assim sem fim, indo eu diria de mim. sim. as músicas. que libertas. os olhos, querendo dormir e o corpo rangendo o alongamento que interrompi. onde eu estou agora? com quem? busco algo ainda não encontrado, mas sei o que é? não quero mais perguntar nem mais quero responder.

isso tudo era apenas para dizer bom dia. para dizer bom ao dia. olhar para ele tocando seu vento e fazendo no suspiro o gesto do nosso encontro terreno.

ai, deus. às vezes o tudo é tão pouco. sinto-me…