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quarta-feira, 9 de junho de 2010

FAXINA

fica tudo irresoluto
as roupas largadas ao chão
as migalhas do pão
tudo solto
mas inerte
incapaz de quebrar
ou partir
ou virar outra coisa qualquer
que não seja a mesmice
essa mesma configuração.

tudo assim como deixei
nem as cinzas se movem
nem a chave quebra ou se perde
os papéis ainda são muitos
a poeira ainda é a pele
que cobre
que protege
que repele
e acalenta
a forma sob a qual os animais restam
guardados.

eu queria que rompesse
pelo sofá
algo capaz de me amar.

eu iria dizer algo assim
que pudesse me destruir
me fazer sangrar

mas já o sou
já sei disso
corre sobre minha pele
já esse cansaço
essa dor
essa intermitente vontade de sumiço
enquanto constante certeza
do horror no qual me envolvo.

hei de começar bem devagar.

desligar o computador.

retirar os cabos da tomada

religar a caixa de som

e dançar pela casa

com a vassoura passando-me de par

com a pá fazendo-me mesuras

eu hei de dançar hoje inerte sobre a sujeira

retirando dela a minha força mais solitária

a minha tentativa mais impossível

a minha dor mais pura.

CAOS

venho de dentro para dizer tudo aquilo que aqui fora agora se confirma:
as coisas estão mexidas
estão todas hoje aqui reunidas.

o quarto a sala o banheiro a cozinha
tudo é um só cômodo
a sujeira os costura
da sujeira eu farei rima.

sim, chama-se caos.
isto que estou vivendo
isto que sou
que estou sendo
isso que me move
osso que me envolve
eu não estou aguentando
temo a morte
e antes dela
o enlouquecer
o perder-se de si próprio
o de novo e outra vez
empalidecer.

era para ser um poema novo.
depois de dias sem poesia.
mas a vida assim gritando consegue o quê?
ela não consegue nada
tudo dela escapa
e tudo está doendo, sabia?

a atenção dos amigos
a geladeira cheia
tudo dói
porque me acostumei a ser mínimo
me acostumei a ser prego solto
enferrujado
eu sobrevivi rindo nisso
e enganei a todos
e mais uma vez
a mim me enganei.

mas aqui persistirei. contando por vias virtuais a realidade esta que está me puxando
e chupando a minha energia
e me fazendo correr para onde eu não quero
não quero
quero ser brisa
hoje apenas talvez
não importa
hoje eu quis continuar
andando pelas ruas
da cidade
mas ainda assim
andando e sentindo atento
quando o sol perfurava um entre-prédios
e vinha me tocar
que frio bom era aquele que tinha a vida contada para acabar.

eu hoje senti frio para poder descobrir novamente o que é se esquentar.

e esse caos?
esses dedos doendo querendo de mim se soltar?

eu quero muito até o fim desta noite olhar para essa zona e nela ir me vendo
se refazer
ir me vendo distinguir
maturar crescer
eu tenho nojo
da velocidade
eu tenho medo do soro
que goteja para dentro de mim sem calma ou agonia
e que apenas vai
e vem
e vai entrando
sem permitir outra rima

eu hoje queria ser resignação.
eu hoje queria ser indiferente
queria eu ser burro
não ter ao menos condição
de olhar a maré e nela ver tubarão
queria eu acreditar hoje em fadas
e não duvidar da mão
que agora
eu sei
não vem
não veio
não virá.

ah, eu uso esse "ah" para nele segurar meu grito inteiro!

ele não basta para esta falta de ar
não basta para o tudo que tremo!

deus! eu preciso ser lacrado! fora de mim
para ver-me como imagino que tenho sido
um faminto esfomeado comendo tudo
sem notar o risco
de seus gestos
no fluir da multidão.

eu estou chamando atenção.
mas é porque tenho enlouquecido.
vou cair nessa onda
onde está o precipício?

talvez tenha força o suficiente para persistir
e virar tempo.

mas é sério.
é que está doendo.

quarta-feira, 2 de junho de 2010