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terça-feira, 2 de setembro de 2025

penso, mesmo quando não


Óleo sobre tela.
Depois, régua sobre o óleo sobre a tela. Era régua ou espátula?
Pintura criada entre 2023 e 2024, não sei exatamente quando, sei que não neste ano, mas também não faço ideia – ainda bem – do que possa isso ser.
Pensava sobre o quanto ao pintar eu não pensava; pensava sobre quanto T há que não penso.
Se penso rápido ou lento, a despeito das durações, sei que penso, mesmo quando não.
No entanto, lá estava ele: meio desnudo, no chão sentado; meio sentido, inteiramente marejado.
As ondas de dentro, haveria nelas uma vaga onde permanecer estacionado?
Em volteios, incessantes e de si ignorantes, seguiu o trabalho; pois há algo de labor na dor.
Insistiu, continuou, foi adiante, mas tudo sem o tempo, tudo sem marcá-lo.
As marcas foram outras.
As cores foram inéditas.
Que demora essa saudade; de poder, outra vez, desativar o poder.

que é este continente


Óleo sobre tela.
Pintura criada entre 2023 e 2024, não sei exatamente quando.
Sei o nome que dei à pintura, mas dizer o nome é perder um bocado do seu mistério.
Há um alarme interior que diz estar pronta, a pintura, quero dizer, que era isso o que vínhamos fazendo até isto vir a ser.
Apita, às vezes, bem depois. Às vezes, o alarme apita sem grito, só apita, no meio da noite e você não ouviria, mas amanhece, e olha, quando você olha para o quadro que nem é quadro, você olha em direção à coisa feita e sente uma satisfação digníssima de estar neste mundo na companhia daquele arranjo meio desarranjado de intenções não expressas e expressões não intencionadas, como diria Duchamp.
Gosto da raspagem, de como a margem celebra o coração-inflado-e-inflamado que é este continente.
Gosto, sobretudo, de esquecer de mim quando estou com ela, a pintura, de quando nós estamos detidas sobre ele, o quadro.