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terça-feira, 31 de março de 2020
sexta-feira, 27 de março de 2020
complicado tossir nesse momento...
imagine ficar em silêncio
apenas imagine
quão complicado poderia ser
ter que
ter que ficar distante de tudo aquilo que
outrora
era o seu sustento
antes isso
antes tossir
testemunho do momento
sobrevive-se
ainda que rangendo
por certo
complicado é isto
eu estar aqui
e você lá longe
ainda que perto
complicado seria mesmo isso
você aqui
e entre nós esses dois metros
imagino outro contexto
a vizinha me olha pela janela
eu abro minha porta
e tem feijão sobre a mesa (dela)
eu levo o arroz, tudo bem
sei como fazê-lo
imagino outro contexto
um no qual este vinho ainda não acabou
complicado seria isto
tossir nem tanto
complicado seria mesmo isso
apenas isto
este momento
apenas imagine
quão complicado poderia ser
ter que
ter que ficar distante de tudo aquilo que
outrora
era o seu sustento
antes isso
antes tossir
testemunho do momento
sobrevive-se
ainda que rangendo
por certo
complicado é isto
eu estar aqui
e você lá longe
ainda que perto
complicado seria mesmo isso
você aqui
e entre nós esses dois metros
imagino outro contexto
a vizinha me olha pela janela
eu abro minha porta
e tem feijão sobre a mesa (dela)
eu levo o arroz, tudo bem
sei como fazê-lo
imagino outro contexto
um no qual este vinho ainda não acabou
complicado seria isto
tossir nem tanto
complicado seria mesmo isso
apenas isto
este momento
quarta-feira, 25 de março de 2020
Expurgo
É como se uma voz maior
dissesse a mim bem baixinho
Deixa arder, mocinho,
deixa
Então eu tusso
Essa palavra feia
tusso
E dói
(dentro)
E arde
(dentro)
E repito os movimentos
eu tusso, tusso e hoje já é amanhã
Acordo ameno
até esperançoso
O café quente
A água gelada
A cueca sobre a pele
O silêncio desta casa
Aí tusso
tusso
Essa palavra horrenda
Deixa, mocinho, deixa doer
E arde
E insiste
E vive
E morre
E segue a porra toda
Essa palavra feia
Essa que não pronuncio
Mora dentro de mim
Mora dentro de mim
eu sei
eu sinto
eu
eu
eu
eu tusso.
dissesse a mim bem baixinho
Deixa arder, mocinho,
deixa
Então eu tusso
Essa palavra feia
tusso
E dói
(dentro)
E arde
(dentro)
E repito os movimentos
eu tusso, tusso e hoje já é amanhã
Acordo ameno
até esperançoso
O café quente
A água gelada
A cueca sobre a pele
O silêncio desta casa
Aí tusso
tusso
Essa palavra horrenda
Deixa, mocinho, deixa doer
E arde
E insiste
E vive
E morre
E segue a porra toda
Essa palavra feia
Essa que não pronuncio
Mora dentro de mim
Mora dentro de mim
eu sei
eu sinto
eu
eu
eu
eu tusso.
domingo, 22 de março de 2020
Suspensão
Quando bem lá nos inícios
certa vez recebi uma suspensão
Fui privado de ir ao colégio
privado dos encontros
Tarde, porém, no depois
jamais poderia imaginar
que novamente seria suspenso
e que da vida seria privado
Ao menos um pouco
hoje observo
Suspenso
o que talvez signifique ser vivo
Minha cabeça dói
meu peito esvaziado, vazio
eu tornado terreno
terreno todo baldio
Haveria vida que não fosse
apenas no entre um e outro
no entre nós
eu e você?
Aguento por uns dias
já no meio da segunda semana
leio as estatísticas que me prologam
bem lá para frente
Onde estou?
Como me finco?
Deveria deixar partir?
Deveria deixar de insistir em chão
quando apenas o que parece haver
é este silêncio
suspenso e suspendido?
Devo?
Minha cabeça dói
em letras garrafais me gritam
você está no grupo de risco
ora, não basta viver para ser risco?
Risco
Suspenso
Esboço
Propenso
Nem sei
quase não me importo
o amor não virá por agora
por agora também o amor está suspenso
Sustento o barulho
protejo o sinistro
especulo lento
lento bem lento
É isso
por agora
apenas isso
isto, aquilo, enfim
[...]
certa vez recebi uma suspensão
Fui privado de ir ao colégio
privado dos encontros
Tarde, porém, no depois
jamais poderia imaginar
que novamente seria suspenso
e que da vida seria privado
Ao menos um pouco
hoje observo
Suspenso
o que talvez signifique ser vivo
Minha cabeça dói
meu peito esvaziado, vazio
eu tornado terreno
terreno todo baldio
Haveria vida que não fosse
apenas no entre um e outro
no entre nós
eu e você?
Aguento por uns dias
já no meio da segunda semana
leio as estatísticas que me prologam
bem lá para frente
Onde estou?
Como me finco?
Deveria deixar partir?
Deveria deixar de insistir em chão
quando apenas o que parece haver
é este silêncio
suspenso e suspendido?
Devo?
Minha cabeça dói
em letras garrafais me gritam
você está no grupo de risco
ora, não basta viver para ser risco?
Risco
Suspenso
Esboço
Propenso
Nem sei
quase não me importo
o amor não virá por agora
por agora também o amor está suspenso
Sustento o barulho
protejo o sinistro
especulo lento
lento bem lento
É isso
por agora
apenas isso
isto, aquilo, enfim
[...]
quarta-feira, 18 de março de 2020
Fui até a esquina comprar cigarros
No caminho
atravessei para um lado
e outro
uma mesma rua
Atravessava sempre que flagrava
um rosto
(que não o meu).
Um pouco perplexo
observei
como havia gente nas calçadas
como ainda pode haver comércio
fui até a esquina
para comprar cigarros
e ninguém se espanta
que eu fume.
No caminho para casa
atravesse para um lado
e outro
da mesma rua
Temendo cruzar por alguém
que subitamente
pudesse tossir
e me contaminar.
Fumo pólvora
e meu cinismo
tem a cor
dessa cidade.
O que haveria para a poesia
se não a tarefa
de escancarar o vírus
que se tornou a humanidade?
atravessei para um lado
e outro
uma mesma rua
Atravessava sempre que flagrava
um rosto
(que não o meu).
Um pouco perplexo
observei
como havia gente nas calçadas
como ainda pode haver comércio
fui até a esquina
para comprar cigarros
e ninguém se espanta
que eu fume.
No caminho para casa
atravesse para um lado
e outro
da mesma rua
Temendo cruzar por alguém
que subitamente
pudesse tossir
e me contaminar.
Fumo pólvora
e meu cinismo
tem a cor
dessa cidade.
O que haveria para a poesia
se não a tarefa
de escancarar o vírus
que se tornou a humanidade?
quinta-feira, 5 de março de 2020
Pourquoi tu gâches ta vie?
Às vezes, a pergunta chega assim
Noutra língua
Fico com ela desse jeito
ou ameaço traduzir?
Meu escasso francês
se reanima
Pourquoi é por quê
Por quê?
Tu gâches não faço ideia
mas me lembra o ser gauche na vida, Drummond
Ta vie eu sei
Sua vida
Por que tornar gauche a sua vida?
Eis a pergunta de uma existência
Não sei a resposta
nem em português quiçá francês
O que faço?
Durmo com ela
E afogado em sono
olho o que encontro
Eu apenas danço
Danço
Eu danço
Noutra língua
Fico com ela desse jeito
ou ameaço traduzir?
Meu escasso francês
se reanima
Pourquoi é por quê
Por quê?
Tu gâches não faço ideia
mas me lembra o ser gauche na vida, Drummond
Ta vie eu sei
Sua vida
Por que tornar gauche a sua vida?
Eis a pergunta de uma existência
Não sei a resposta
nem em português quiçá francês
O que faço?
Durmo com ela
E afogado em sono
olho o que encontro
Eu apenas danço
Danço
Eu danço
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