pergunto
essa pregunta
prego esse prego
não na testa
mas no texto
te pergunto
meu caro estúpido
o que seria de você
caso fosse apenas você
sem o tempo
você me olha
meio vesgo
bem mais cansado
você me olha
e não vê nada
por isso esse prego
essa pergunta
pregunto-te
o que seria
o que poderia ser?
você não diz nada
faz dias não toma banho
faz dias não tem refeições
faz dias você apenas
faz dias
agora eu te olho
do dentro de tantas preguntas
te olho
te contemplo
e não há piedade
o que você poderia
anda justo ao seu lado
o que você poderia fazer
é precisamente
já o não feito
você se abandona
fica no café
acende outro cigarro
escreve poesias sem caneta
ou verbo
você resiste
sobrevive você
insiste tanto
mas tudo sem força
tudo sem força
você fez décadas
o que poderia te dizer?
não digo nada
vislumbro interrogações
para que não percas toda a sua graça
interrogo
interrogo
te peço, te vejo,
te olho
interrogo
o que você poderia?
o que pode?
o que talvez você pudesse?
você dá de ombros
você me esnoba
suspeito
o perigo era esse
sempre fora
deixar de ser amante
do desassossego
por isso, meu caro
o que eu poderia fazer
que não apenas
e somente
te interrogar?
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