Agradeço sua existência.
Mesmo.
Agradeço a você, cansaço,
por dobrar minha coluna
e desconfiar da minha dor.
Sou daqueles seres que se gastam
inteiros e destemidos
daqueles que vão
mesmo quando o ir
é apenas e tão somente
continuar caindo.
Caio fundo e profundo.
E mesmo depois do chão
continuo, eu continuo
continuo indo e caindo
continuo crente que seja esse
mesmo
meu único destino:
dar-me e doando-me
doer.
Mas aí você chega
subitamente, olha só
cá está você.
Fiquei cansado.
Fiquei contigo, cansaço.
Casamos?
Um namoro breve?
Uma trepa?
Um caso?
Não sei, mas agradeço sua persistência.
Sua presença em minha casa
na superfície fria do meu peito
no arrepio preguiçoso que me confirma
não tenho mais como
seria preciso descansar outra vida inteira
para tomar forças
e recomeçar essa história de amor.
Cansei, cansaço.
Cansei de buscar, de tentar, cansei dos empenhos todos.
Hoje, cansado,
reconheço-me, por fim,
vivíssimo.
Estou tão cansado de lutar pela gente
que não há mais gente
há só esse sono longo
sono quente
sono preciso
eu longe de ti
eu cansado demais
para insistir.
Não, o amor não é para o fortes
nem para os fracos
o amor
essa coisa de amor
esse negócio
é apenas para os que ainda não descobriram a paz
que ser e estar
cansaço.
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