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quinta-feira, 18 de julho de 2019

Um gesto inédito

Dessa vez
foi inédito
Não pelo gesto
em si
Mas por seu autor
por ter sido eu
Eu mesmo
a fazer aquilo
antes, para mim,
tão violento
tão violento

Encerrei nossa busca
dei fim ao nosso mútuo cansaço
O meu de tentar te ter
O seu de tentar se ser e, se sendo,
ser junto ao meu lado
Não foi possível
nosso encontro se deu
mas não perseverou

E muito tentamos, certo?
Tentamos bem, meu amor
tentamos
e, ainda assim, continuamos doendo
Talvez não seja o momento
talvez a gente se reencontre
lá na frente
num depois
quando você puder estar comigo
quando eu puder estar com você

Queria te dizer o tanto
a imensidão do meu carinho
minha admiração, por ti,
gigantesca
Queria te dizer que acredito
acreditava
Acredito que poderíamos seguir
tentando
e ora conseguindo
ora parando

Mas escolhemos não mais tentar
escolhemos deixar
deixar de lado
um pouco
sem data de retorno
sem sonhos a agendar
Escolhi, por nós dois,
o que poderia sobreviver
de melhor
para nós
nós dois
eu e você
você e eu
Nós

Escolhi te dizer
e disse
Não posso te amar
não porque não queira
mas porque é sabido
que você não tem condições
para me amar
Não posso te amar
não vou mais
não vou
não posso
já nem quero

Quero que fique a beleza
de tantos dias e noites
de tanta conversa
confissões e carinhos
foi tanto
ainda é tanto
quase me afogo
porque te amo sim
algo inédito
é mesmo te amando
me lançar na estrada
e me fazer partir
Eu parti
por mim
por você
por nós

Eu te espero
sem força
sem esperança
Te espero
como quem espera
sem esperar
como quem não mais deseja
como quem pode
e quer
e aprendeu
está aprendendo
a durar
a ficar
mais parado
menos desejante
eu, menos apaixonado,
torcendo em silêncio
pelo seu levante

Você é lindo
é gentil
é tão vasto
tão tão grande

Eu quero ser lindo
quero ser gentil
e ser vasto
e grande grande

Deixemo-nos, então,
ao tempo
destinemos nosso rosto
ao seus ventos
É isso por agora
já já a gente se revê
já já a gente se reconhece
já já o tempo passa
e já já a gente também se esquece
já já a gente não se lembrará
já já invadiremos, simultâneos,
nossos sonhos solitários
já já os corpos tocarão seu solitário corpo
já já estarei tombado de amor por outro alguém
já já contarei de ti com esse brilho, mas todo arrefecido
já já tomaremos vinho
já já, eu sei, eu sinto
já já a vida acontece
já já a gente aprende
já já se arrepende
já já adoece
e muda
e vai
e nunca volta
a gente só vai
a gente só vai

e que seja gostoso
que seja suculento
que seja como foi, meu gatão
delicado
íntimo
silencioso
e morno-quase-quente

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