Sebastian Wickeroth. |
dentro
profundo
pergunta uma emana
te convida a ir
morrer como quem vive
Sebastian Wickeroth. |
Como você está?
Pareço angustiado?
Não diria, apesar dos ombros altos.
Meus ombros?
Estão altos novamente. Excitados.
Não estão excitados.
Estão tensos. Preocupados.
São muitas responsabilidades.
É o que mais?
Nada mais. Tem algo mais além disso?
Tem tudo aquilo que julgamos desnecessário.
Vai me dizer que isso importa. Eu sei.
Sabe que eu vou dizer ou que importa?
As duas coisas.
Que coisas?
Sobre o que poderíamos conversar?
Você está apaixonado.
Um pouco.
Consegue medir?
Estou tentando não exceder os limites.
Há limites?
Sim, eu inventei alguns.
Para quê?
Não sucumbir.
Oi?
Estou muito apaixonado.
E não está sendo correspondido?
Estou.
Então? Falta o quê?
Ele aqui.
Ah... Entendi tudo...
Por que a reticências?
Quais?
Essas, na sua fala anterior.
Eu não usei reticências.
Usou sim. Deu para ver.
Certo, eu usei. Duas.
E quer me dizer o que com elas?
Que de novo não, né?
Não é de novo. É o mesmo, mas diferente.
Por isso você fala de limites, de não sucumbir, porque você já sabe onde tudo vai dar.
Eu deveria não sentir o que estou sentindo?
Você não deveria estar aqui comigo. Não sou uma boa companhia para amantes do amor.
Ainda nessa? Você ainda está nessa?
Estou.
É direito seu. Como é meu estar apaixonado.
Cada um tem o que merece.
É. Ou aquilo que quer merecer.
Tanto faz. Eu vou embora.
Vá...
Você usou reticências?
Usei. Para deixar a conversa em aberto e você poder voltar.
Obrigado.
Nada...
Nem sei o que dizer.
Passei.
Vi por trás.
Cruzei a rua.
Deixei para trás.
Sentei na calçada.
Passou por mim.
Olhei.
Olhou.
Olhamos.
Seguiu mesmo assim.
Fiquei.
Olhou de volta.
Olhei.
Andou.
Olhou de volta.
Eu continuava a olhar.
Andou mais.
Fiquei olhando.
Olhou de novo.
Meio que sorri.
Parou.
Apaguei o cigarro.
Quantos metros?
Uns oitenta, cem, cento e poucos.
Ele veio.
Bebi outro gole.
Ele disse oi.
Eu também.
Iago.
Diogo.
Um beijo.
Outro.
Outro beijo.
Beijo do outro.
Disse adeus.
Disse tchau.
Passou assim.
Assim estou.
Beijado.
Vem
Pare aqui
Ao meu lado.
A fumaça por vezes passa
Resta o silêncio
Entre nós
Querendo desatar.
Vento frio
Leve frio
Mas frio
Noite branda
Escura noite essa, não?
Por que não?
Confesso
Sua letra
Seu cabelo. Seu sorriso
Aquele abraço
A beijoca
Assim que se diz?
Aquele beijo estridente
Estupendo
Aquele
Aquilo
Isto
pois então
Fiquei demente.
Não pare
Não parte
Não vamos terminar
Continua
Mais
Mão no rosto
Abraço no laço
Não estacione
Vamos
Força
Até já, meu bem
Até já.
Tudo se choca
Mas nem tudo desmorona.
Algo fica, inerte e dolorido,
Acenando ao futuro
Outro possível que não o vivido.
Você estava lá
Lá você esteve
O baque o susto o tiro
Tudo é tão instante
Você está aqui
Aqui você estará
Uma noite ou duas
Quem poderá te dizer?
Inerte em poesia que machuca
Lentidão para quem não tem calma
Música longa para quem não tem
Escuta,
Pare
Um pouco, o corpo lhe pediu
Repasse para o fortuito tempo
A solução do seu desencadear.
Você ainda está vivo
Então viva o que a vida te dá.