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sábado, 7 de janeiro de 2017

O Medo

Não estava frente a um espelho.
Estava sozinho mesmo, apesar de acompanhado de si.
Então se perguntou:
Você tem medo do quê?
Pergunta inteira.
Hein?
Não respondeu.
Caminhou pela casa.
Viu a poeira acumulada.
Pensou que no dia anterior havia limpado tudo.

Num súbito, se encostou à porta do quintal.
Mirou o céu nascente, o sol que acordara cedo.
Pensou sobre o medo e também sobre as coisas
as coisas que ali se mostravam tão claras
tão plenas.

Medo de não corresponder?
Responda.
É isso?
Você tem medo de não corresponder?
Corresponder a quem, ao quê?

Voltou ao dentro da casa.
O calor começara.
Caminhou pelos cômodos
a poeira solta no ar
e voando mais e mais a cada passo.
Pegou um comprimido.
Dor de cabeça
pensou sua cabeça.

Ali, engolindo o comprimido
esteve certo que o seu medo era esse mesmo
O medo de não dar conta de ter que ser aquilo que o mundo havia lhe dito.

Medo de não corresponder.

Queria ser sem correspondente.
Ser como quem apenas está.
Ser poeira
subir, voltar, cair, voar
Sedimentar.
Restar.

Você se permite?
Não se respondeu.
Eu te fiz uma pergunta. Você se permite?
Não corresponder?
Não ter que?

Em silêncio, querendo parecer distraído
naquela manhã amarela ele encontrou o princípio
que, apesar de início, não precisava de coisa alguma fora de si

Era isso
Não corresponder ao mundo
é existir.

Eu estou aqui.
Sem correspondência.
Eu estou aqui.
Falando sem pressa por ser ouvido.

Lá fora o dia impaciente
não porque faltasse algo
Mas porque sim tudo ele já ouvia
O dia
Ele me ouve
Ele me vê
Ele me fita.

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