Pas de Deux is French for "Step of Two" and is what partnering is called in ballet. By dancing with a partner the lady can jump higher, take positions she would never be able to on her own, and "float" about the stage as she is carried by her partner. A partner allows a man to extend his line and show off his strength.
TRADUÇÃO
Passo de dois é a parceria. Como no Balé. Uma mulher dança com seu parceiro. Eles brincam, com risco de cair, despencar, ruir despedaçar. Ela pode pular, ele sempre a pegará. Sozinha, não poderia. Como assim se jogar sem ninguém para te pegar? Isso seria outra coisa. Coisa chamada suicídio.
In pas de deux the man quite often does not stand in a balletic position or appear to be dancing at all. He can do this because the audience will almost always watch the lady, but now that you have read this I'm sure that you will watch the man as well next time you go to the ballet to see if it is really true. The man acts as a "third leg" for the lady by stabilizing, lifting, and turning her.
T.
O homem não precisa sempre estar nesta posse. Nesta pose. Posse. Pose. Enfim, todos costumam olhar somente para a mulher. É ela quem corre o risco de morte. Talvez sabendo disso agora, da próxima vez quando os dois olhar, poderá atentar para o cara, ver também quais movimentos executa. O homem é como o detentor da "terceira perna", aquela que a mulher não tem. Ele detém o que ela não tem. A terceira perna. É dele. Sem esta, ela não pode se estabilizar, nem ascender, nem sequer girar sobre o próprio eixo sob o risco de cair.
Four major areas of technique in pas de deux are promenades, lifts, turns, and jumps, although there are other areas as well. A promenade is when the lady takes a position on pointe and the man walks around her while holding on to her, thus making her turn. A lift is just what it says: The gentleman lifts the lady. The number of different lifts that can be done in ballet is almost limitless. When doing turns with a partner it is normally the lady who does the turning, usually some sort of pirouette. By doing pirouettes this way a lady can do many more pirouettes than she would normally be able to do on her own. Jumps can be very fun, tiring, or scary depending on what kind of jump a couple is doing. Some of the more risky jumps would be more accurately described as catches. This would be where the lady jumps on her own into the arms of the gentleman. Probably the most dangerous of these jumps is a leap of faith; this is the jump when the lady takes off and turns in the air so that she will land on her head if the gentleman does not catch her. Such moves always bring a gasp from an audience.
T.
Alguns movimentos são conhecidos, como passeios elogios viradas e saltos. Existem outros, é claro. Passeio é quando o cara pede que ela feche os olhos e a leva para conhecer o que há dentro de um corpo em chamas. Ele sempre estará ao redor dela. Um elogio é uma maneira de elevar a parceira, o parceiro. O número é infinito. Alguns elogios podem gerar piruetas, que é quando saímos da terra e giramos eternamente achando que somos algo além do que somos. Os saltos, são divertidos, cansativos e perigosos. Depende do tipo de salto que um casal se permite fazer. Os mais perigosos são os do tipo pegada. Isso é quando a mulher pula e cai direto nos braços do homem. Não necessariamente do homem, podendo também ser outra (coisa). O salto mais perigoso, sem dúvida, é o salto da fé. Aquele em que a mulher mergulha de cabeça e se o cara não estiver ali, bem, ela pode enfim morrer. (Esses saltos costumam gerar um grande repercussão na platéia).
Eu sinto o meu corpo Tentando sozinho se refazer ele estica suas mãos e eu vendo elas assim no alto pendendo não consigo compreender
o que podem querer dizer o que significa esse gesto como se o aceno fosse o pedir pelo socorrer.
Tenta o meu corpo se refazer e não cruza tanto mais as pernas quer me colocar de pé mas eu me canso e não consigo compreender porque tanto vagar porque tanto correr
o que podem querer dizer o que as faz mover o diante como se adiante houvesse algo a saber.
Tenta o meu corpo se refazer e nisso o que eu quero sempre se distrái pois é ele indo de um jeito e eu pensando noutro caminho
Como podemos ser o mesmo se eu penso em destino e ele pensa em estar
Como podemos se um vai para um lado e outro se faz de morto?
Eu e meu corpo precisamos nos dar as mãos precisamos juntos ir nos fazer compreender o que em mim nele dói e o que nele me é intolerável incapaz de dar prazer
Estamos juntos, fadados o nosso destino é um mesmo resultado a nossa ferida abre um mesmo buraco e o nosso sangue é o que nos costura
Por isso, corpo não se jogue dessa altura porque eu tenho medo
Não se precipite em meio a fumaça porque meus olhos ardem só de pensar o baque da nossa união ir assim se desfazendo perdida rumo a um chão qualquer de concreto sob um automóvel que sairá discreto
Não queiramos nos perder Não deixemos o tempo avançar e nesse percurso a gente nada fazer
Vamos dar as mãos e juntos ousaremos dizer a mesma língua o mesmo rosto o mesmo peito a mesma edificação
Não mais eu sobre você nem você sob minha jurisdição somos um só porque haveria então entre nós uma cissão? ?
Meu corpo ainda não está todo pronto. Numa parte ou outra despenca, como se a dor fosse inevitável para justificar a minha presença. Dói corpo meu. Mostra a sua cor. Deixa explícita a escolha esta de permanecer sofrendo, de permanecer indo e voltando cicatrizando e roendo a própria carne. Essa dor é minha só não é de mais ninguém. Dor de caminho de contorno de processo. Estou voltando. Aos poucos, mas voltando. Volto a conta-gotas.
O corpo também regressa. Minha volta é minha vida se condensando para tornar-se mais desperta, mais pura e sincera. Volta também minha poesia, pois as coisas aqui estão estranhas. Estão sujas. São tão instantâneas. Não querem dizer a sinceridade, querem dizer a forma insconstante dessa minha realidade. Querem capturar o segundo mas sequer contemplam no redor e a lei vigente. No redor há tanta gente e nisso eu também sou eu. E fora disso o que realmente eu sou?
Não me contemplem. Não contemplem-me. Não vejam essa abissal transformação. De verter em flora o que fora sangue. De verter em veto o que foram versos. De verter em decisão o que fora exacerbada tentativa de comunicação. De verter hoje o rumo do chão em destino para casa. De se inverter. De se fazer sala. De se fazer perceber outros peitos também em você. .
Eu escrevi uma carta. Talvez tenha sido a primeira que fiz endereçada a você. Sempre soube que a tinha. Sempre soube que pela carta eu lhe diria tudo aquilo que não consigo. Hoje estive próximo. Quase lá chegando, quase a carta lhe entregando. Eis que o acaso, o destino, o tempo, um atraso, me impediu de te entregar.
Agora, resta esta carta aqui sobre a cama. Esperando.
Cartas morrem?
Cartas sofrem o que um corpo é capaz de sofrer?
Cartas sobrevivem ao tempo e a falta?
Temo pelas palavras. Acho que com o tempo, ali no papel presas, talvez elas queiram se desprender e possam então lhe dizer, um dia, outra coisa que não o planejado. Outra coisa, mas não o hoje que, novamente, eu fui incapaz de dizer.
A chuva caindo lá fora e aqui, aqui onde eu escolhi estar, tudo parece em ordem. E parecer não quer dizer não estar. É apenas que as aparências mal acordaram e tudo ainda é sincero e saudável. Eu bebo este café sem açúcar. Por vontade de experimentar. Eu pego o ônibus para casa mas desço antes, desço noutro momento, noutro lugar.
Se eu conseguisse dizer a vocês o que está transbordando neste momento. Talvez assim eu pudesse vir a me dizer poeta. O que é ser poeta, então? É dizer isso que me extravaza? É saber o nome das coisas que se escondem ou das cores das coisas que se jogam da sacada? Ser poeta é ver o
"c"
caindo numa gota e depois o
"h"
e mais tarde o
"u"
seguido do
"v"
que é esmagado pela gota
"a"
É conseguir em si desmembrar o mundo e dizê-lo ampliando os segundos.
É isso tudo que estou tentando dizer. Como se tivesse que dar conta de cada gota que neste momento, que nesta terça-feira, agora, chuva, 22°C ou 72ºF, nesta cidade do Rio de Janeiro que de acordo com Drummond, de dois milhões de habitantes.
Eu poderia aqui ficar e nisso aqui eternamente tentar dizer. Meus amores, meus prazeres, medos, sonhos, todas essas coisas costumamos buscar e/ou dizer. Mas neste momento, nesta fração do agora, tudo feito como a chuva fará, também evapora. E resta o meu corpo, paciente, respirando demais ou pouco, na batida de cada gota resta um corpo, ouvinte ao seu prazer de ser testemunha do mundo que desaba para de novo vir a ser. Para de novo vir nascer.
- Essa é a pior parte da nossa separação. Não acha? - Nutrimos mais amor pelos nossos livros do que por nós mesmos. - Eu ainda gosto de mim. - Eu não. - Tudo bem. Também não gosto de você. - Gostou alguma vez? - Claro que sim. - Ainda bem. Nem tudo foi ficção. - Qual o problema com a ficção? - Realmente, nada. - Engraçado. Pensei que você gostasse. - De fingir o que não existe? - Não, dos nossos livros de ficção. - Sempre achei que os romances falavam sobre amor. - Nem todos... - Eu sei. Você me ensinou. Romance é um gênero. - Não quer dizer amor. - Pode ser sobre a morte. - Não quer dizer que nisso também não tenha amor. - Eu sei. Isso também você me ensinou. - Você tá se comportando como um aluno que vai até a casa da professora... - Você é a professora? - Ou professor, tanto faz. Você é quem está abismado diante dos livros... - Que são nossos. - Mas que mesmo assim não vão nos unir para sempre. Anda. - Quem começa então? - Vai você que não gosta de ficção. Temos muitos desse gênero. - Eu levo esse. - Eu fico com essa autobiografia. - Com essa? - Não começa! Se você for reclamar em cada divisão, é melhor eu ir embora! - Desculpa. Eu devia ter me preparado melhor. - É. Devia assim. Além do mais, esse aqui você já leu. - Não li. - Então mentiu? - Menti. - Você quis me impressionar? - Eu quis. - Por favor. Pode levar com você. Eu pego outro. - Não precisa. - Precisa sim, esse livro é ótimo.
...
Sentindo o peso das palavras. Tentativa tentada. Agora resta a tentação de fazer o ato germinar e de ver nascer um novo corpo sob forma de drama.
...
Das palavras
É que quando você as lança elas sempre acenam abrindo as bocas e seduzem o estranho o distante e então o que você criou é apenas pequeno num instante num instante suficientemente curto até que despreendidas possam lançar sua sedução e fazer caber num só ponto final todo um universo em plena relação com um infinito.
Foi quando eu percebi que eu também escrevia primeiro sobre mim, depois sobre o mundo. Eu sobre o mundo. Eu atráves dos meus olhos. Num exercício redundante de dizer pelos olhos o que os mesmos olhos são capazes de ver. Fiquei pensando que talvez fosse um ego, centrismo. Talvez uma prepotência. Não seria também cinismo? Pensei em adjetivos, busquei traçar sentidos que pudessem dizer sobre este meu exercício sobre mim, essa minha experimentação comigo mesmo. Mas não cheguei muito longe. Meus braços e pernas ainda não são capazes diante da imensidão de meus medos. Erros.
Segui pensando. Pensar hoje é tentar. Segui tentando em mim clarear os comentários. É tão ruim se expor? É ruim que a minha sinceridade seja primeiro em meu corpo, para depois ganhar contorno outro e talvez nisso mesmo ir se perder? Não saberia dizer. Mas é certo que os primeiros versos sejam quase sempre eu tentei algo dizer.
E é na busca desse algo que eu também ouvi e vim perceber. Que poesia é essa que sentencia o que é morte o que é dor o que é o amor e o que é o viver? Estaria cega confusa obstinada numa só busca num só sentido sem separar nada deixando assim tudo confuso e impreciso? Eu me questionei sobre o porquê das orações tão corretas. Dos pontos tão finais. E das linhas que em termos gerais buscam classificar o que há ao meu redor.
Necessidade de classificar. Eu preciso dizer que há morte e fazer você assimilar que sentidos ela mesma desperta em mim. Essa é a minha certeza. E como são diversas tentativas, certezas despencam sem parar, sem peso, sem talvez vitalidade, sem conseqüente germinar. O excesso é a vida. E a minha vida é tentativa. Sentencial.
Por último, eu devo sobre isso também pensar, afinal, do que sou feito? Porque as coisas que produzo, os filhos que semeio aqui no mundo, são eles produto também dessa minha matéria, dessas minhas veias e artérias (e daquilo tudo que lanço na corrente da nossa sanguinovia).
Estalo os dedos. A coluna. Faço o corpo reclamar. Quem é você e o que veio buscar? Faço o corpo em cicatrizes se criar. Marcando na face a promessa do partir caso nada disso mais me importar. Primeiro eu. Eu no mundo. Não posso dizer primeiro o que há fora pois só existe um fora porque aqui dentro sou eu. Um só. Um único.
Eu li isso um dia. Que uma poeta escreveu sempre sobre sua própria vida. E não é isso poesia? A própria vida? .
Eu não tenho nada para dizer Eu sinto que eu me espremo e que quero me fazer compreender mas não há nada agora há nada a dizer
De uma hora para outra há muito sobre o que falar numa viagem apenas eu penso no chão na chuva no meu cansaço no meu bem-estar
Mas ainda assim ainda nesse vagar eu me perco e recomeço a perceber que não há nada a dizer nada nada nada há
De uma hora para outra a chuva sobre mim despenca de uma hora para a outra já não há mais nada em minha dispensa de uma hora assim para outra resta só o silêncio
e mudo eu persisto acompanhando o trajeto do tempo
De uma hora a outra dessa outra a uma depois nesse rumo os ponteiros avançam e de uma hora para outra eu já fui o meu futuro o meu passado
eu perduro no tempo eu nu tempo sou perdulário
e os dias são poucos as horas são poucas amores são mortos e a tarde é sempre curta sempre curta curta rude e sem afeto
Tento tudo direto não posso oscilar pois de uma hora para outra eu posso cair eu posso mesmo tombar numa fração deste mundo eu posso me desaparecer eu posso te desesperar
eu posso não sei se devo eu vejo não sei se anseio eu medo silencio adormeço e de uma hora para outra é manhã outra vez. .
Ela ali sentada. Ele chega. Ela lhe dirige a palavra,
- Onde você esteve esse tempo todo?
- Procurando. E você? Sempre aqui?
- Esperando.
- Novidade pra você.
- Você está me ironizando?
- Não. É que às vezes ironia coincide com a verdade.
- No meu caso.
- No seu caso.
- No meu caso.
- Queria alguma coisa? Pra me perguntar onde estive esse tempo todo?
- Queria sim. Ainda quero.
- Posso ajudar?
- É aquela caixa no alto. Você pode pegar?
- É promessa?
- O quê?
- Isso de ficar inerte, esperando?
- É opção. Não tem a ver com religião. É essa caixa alta. A mais alta.
- Não vai me dizer o que é que tem nela?
- Você quer que eu diga ou quer ver?
- Diga.
- Veja você.
Ele puxa uma cadeira e a coloca diante de uma alta estante carregada de livros. No alto, uma caixa empoeirada esbarra no teto. Ele sobe na cadeira, estica ao máximo os braços e puxa a caixa de uma vez só.
- Está aqui a sua caixa.
- É para você.
- Não, eu não posso aceitar.
- Não é para aceitar. É sua. Estava comigo. Mas é sua.
- O que é?
- Você quer que eu diga ou prefere ver?
- Não tem nada aqui que vai me machucar, tem? Algum palhaço que salta quando se abre a tampa?
- Depende do que machuca você.
- Você está amargurada.
Silêncio preenchido com dor. Ele volta,
- Eu não quis dizer...
- Quis sim. E disse. Abre logo a caixa e vai embora.
- Só porque eu fui sincero agora você vai me tratar mal.
- Eu não te trato bem faz tempo.
- Então você assume?
- Quem tem problemas em assumir coisas aqui é você.
- Está certo. Então eu vou embora.
- Não.
- Quer que eu fique?
- Só até abrir a caixa. Está em suas mãos. Vamos.
- E se eu não quiser te dar esse prazer?
- É você quem perde, querido. Eu já não tenho nada.
- E ainda insiste em ficar parada, dentro de casa, como se fosse doente.
- Há doenças que não se revelam, querido. Que consomem por dentro, primeiro. E fica tudo aqui dentro, vazando, como se tudo dentro morresse primeiro para depois te avisar, agora há só você.
- Você tá louca.
- Agora há só você.
- Eu o quê?
- Abra logo. Eu fiz por você.
- O que é?
- Quer mesmo saber?
- Eu perguntei.
- Um pedaço de mim. Pra que você leve e faça o que quiser. Eu não me importo que jogue fora. Só preciso ver você saindo daqui com essa caixa. Cruzando os dois, juntos, aquela porta.
- Um pedaço de você?
- Só um pedaço, não é nada. Não me faz falta. Dou-lhe de bom grado.
- São seus cabelos?
- Não. Estes todos podem ter. Olha quantos fios percorrem essa casa.
- Está mais limpa.
- Não minta. Não precisa tentar me valorizar. Eu não presto.
- Pare com isso.
- Então vá. Junto com a caixa.
- Que pedaço de você?
- Só não me deixe ver você jogando a caixa fora.
- Se o fizer, só jogarei mesmo quando sair.
- Sincero de sua parte.
Silêncio preenchido com dúvidas.Ela prossegue,
- A sinceridade dói, eu sei. Mas passa.
- Abra a caixa.
- Eu? Jamais. Já doeu o suficiente fechá-la. Imagina ter que colocá-la no alto da estante. E conviver com esse cheiro podre de corpo esmaecendo.
- Corpo?
- Eu disse que era um pedaço meu.
- Você está louca.
- Não, estou morrendo.
- Chega!
Ele apóia bruscamente a caixa no chão.
- Não! Eu exijo que fique com você! É sua! Tire ela daqui! Me leve pra passear.
- Não quer você sair daqui?
- Não. Aqui eu vou ficar. Falta pouco. Já posso ouvir o agora só há você.
- Eu não consigo...
- Não se culpe. Do jeito como foi eu sabia que nisso ia resultar.
- A caixa...
- É sua. Pare de balbuciar. É sua, pode levar.
- Um pedaço seu?
- Um pedaço fresco. Que ainda não morreu. Leve logo antes que estrague.
- Qual pedaço seu?
- Meu útero.
- Meu Deus!
- Eis que volta a sua fé. Aproveite e saia daqui, vá passear.
- É mentira!
- Quer que eu diga ou prefere ver?
- Diga que é mentira.
- A verdade às vezes dói. E olha, eu preciso te dizer, esta foi a que mais doeu.
- Por que você fez isso?
- Sem perguntas. Leve a caixa.
- Isso não é meu.
- É sim. Foi por você.
- Não me culpe.
- Não é culpa. É um presente, você não vê?
- Você está louca!
Ele sai e abandona a caixa no chão. A porta entreaberta revela a sua correria rumo a não se sabe onde. Ela resta, na cadeira, contemplando a si mesma, naquele pedaço de carne encaixotada.
- Novidade.Mais um que foge. Mais um.
Pega na mesinha ao lado o telefone. Disca,
- Oi. Lembra de mim? Sim. E você? Que bom. Na verdade, eu estou um pouco mal. De saúde. Queria saber se você podia passar aqui em casa. Ainda hoje. É. Queria dizer umas coisas, sei lá... Uma despedida. Obrigada. Obrigada mesmo.
Desliga. Apóia o telefone na mesa e contempla, novamente, a caixa. As mãos, incoscientemente, repousam sobre o ventre.
- Agora vai ser mais fácil. A sua caixa já está no chão. A porta já está aberta. É só entrar e me tirar daqui. Só entrar e me tirar daqui. Antes que eu estrague, pra sempre. .
Passado o vento algumas palavras alucinam meu pensar
Não foram assim fofas demais?
Como? se entre elas frisei tanto o despedaçar se pintei tanto entre elas o precipício a lágrima e nem tanto o luar?
Passado o vento os cabelos ainda estão plácidos as roupas duras são todas de plástico
Eu vi eu vi as unhas estavam limpas e a terra molhada molhada no chão ficou molhada no chão secou e nem tudo virou cinza
Certas existências existem para perdurar
Para contar o caminho Nem fim nem começo nem meio eu me aborreço e me volto à elas para rememorar quanto de mim é verdade incapaz de te tocar
O que posso fazer se o meu mais sincero filho hoje já passado foi impreciso e autoritário?
Para onde foi minha verdade que o vento não quer largar?
Talvez eu deva mesmo e somente respirar sugando dia após dia como num solavanco da alma todo o excesso ao ar enfim lançado
Que em alguém encontre um eco um cheiro esquecido que nas alturas você se escute e veja o que fizeram contigo
Que nas alturas você despenque e venha aqui me ver venha aqui me ler e tente, por favor, me fazer compreender tudo aquilo que dessa vez eu sou plenamente incapaz de. .
Tenho a boca seca não de amor nem de água não de fala boca minha seca de fumaça
e tudo então fica nebuloso tudo em mim fica passível de não ser o que digo de parecer precipício quando dentro é caminho
Boca minha precisa molhar não no gesto mas no ficar persistir nas poças e repousar
e tudo então será pranto serás boca minha piscina onde as crianças que invento encontrarão seu eco seu gesto sua rima
Uma voz suave repete a construção um menino se perdeu e está de pé pés firmes no lábio inferior mãos sedentas no de cima olhando para fora dessa caverna toda minha
e tudo então dela parte tudo ou pode ser grito silêncio gemido ou disparate
tudo então pode voltar cair para dentro e naufragar na poça do intestino no mar que carrego comigo sempre dentro sempre revolto sempre preciso no desalinho de suas ondas e contornos e curvas
minha boca é deserto é aridez é peito além do aberto além do exposto ultra-além do protesto
e tudo então vira poesia pois nada escapa ao vento que vento ao tentar fazer compreender a rima impossível que se tornou o morrer. one two three four five six seven eight einstein on the beach
Há uma precisão sobre as coisas que só conseguimos deter depois que o tempo passa. Certas coisas não se podem compreender nem sequer um sentido assimilar exceto através do tempo. Coisas que fogem feito fumaça que escorregam e despencam escada abaixo - essas mesmas escadas que cruzamos todos os dias na urgência de um ou outro compromisso.
Certas coisas precisam antes do nosso sumiço para se fazerem plenas. A completude existe sim. Mas vem junto com a morte. Um dia ele me disse,
Tudo o que se completa deseja morrer.
Que desejo é esse que há além de um morrer? É o desejo do eterno? É a sabedoria do retorno? Viver como um espectador - de profissão. Olhando os nossos atos com olhos recém-lançados para a inevitabilidade dos nossos rastros/rabos.
Eu fico pensando quantas mortes serão necessárias para se capturar o instante? Quantas serão necessárias para gerar esse outro entendimento do amor, que não acaba ali, que não despenca ribanceira abaixo, esse sentimento do amor que perdura, agora novo, agora noutro estado. Eu me pergunto quantos peitos mais irei amar e em quantas mortes de peitos devo eu desaguar?
Um dia, quando alguém se completou em minha vida, sofri por não compreender o que o tempo no seu exato presente me dizia. Pensava com persistência tenaz,
Quanto mais se ama mais se dói e mais e mais...
Passe uma semana querendo não amar, querendo não sorrir, querendo não me entregar. Temia amar e depois ter que fazer ser parte - do meu amor por você - a morte. Como me assustei, como criei transtornos e me machuquei. Veio então o tempo e eu vi, como foi mais doloroso que o morrer o não amar. Como doeu mais em mim o tempo perdido do que o seu enterrar.
Certas coisas não se compreendem de imediato. E a compreensão não perpassa necessariamente o que digo. Perpassa e extravaza primeiro um coração.
. .. ... .... ..... ...... .......
Vou ouvir com atenção. Vou observar o porquê dessa fixação. Com a morte. Estou nisso parado (vagando) - não em busca de resultado. Investigando essa estranha fixação que me faz prever a morte do pêssego que acabou de amadurecer. Às vezes é bem literal. Às vezes transmuta-se em línguas que não saberia descrever. Certas vezes tudo é tão simples como ser livre e querer voar. No entanto, em todas elas, paciência. Não saberia dizer outra coisa. É este o meu momento. É esta a minha coisa. E não é tão ruim. É necessário. Faz parte de um caminho, não necessariamente arbitrário.
Não me assusta a disposição dos móveis, nem sequer as luzes apagadas.
Assusta-me primeiro a pele seca e a persistência dessa vaga, em aberto, no meu corpo, no meu peito. Variados os modos tentados, variados os gracejos lançados. Mas para quem, eu me pergunto. E eu sempre me pergunto o que não posso responder. Sempre me lanço nos espaços que não posso compreender. Ou porque são fundos demais. Ou porque nunca há neles um você, que seja, qualquer você, um desses que me estenda as mãos e tende a me fazer compreender o porquê das luzes apagadas o porquê dos móveis tão colados sem espaço entre eles sequer para um transitar das pernas.
Mais uma vez eu chego em casa. Nem é noite nem já é dia. Eu chego em casa na hora da agonia, quando o corpo ainda não chegou ao limite, quando o corpo ainda persiste, louco, querendo amar. As luzes apagadas, os ruídos são de fora. São de fora de casa. O silêncio aqui dentro persiste e eu preciso perfurá-lo. Dizendo sem sentidos e ousando ferir o ar com um soluço ou um espirro. Mais uma vez eu chego aqui. E não sei como em seguida caminhar. Não sei o que fazer depois que entro no quarto e despejo sobre a cama o que sobrou além de mim. A mochila, a garrafa de água, a carteira, o celular. Tudo no silencioso. Tudo sem vida. Tudo assim em abandono.
O que me recebe enfim é essa tentativa de se dizer de se gritar de se contorcer entre palavras e nem sempre em versos. Nem sempre eu verso sobre o que em mim agoniza. Eu estou neste momento fugindo das rimas. Fugindo até nelas não me ver e não me vendo também por isso me esquecer e ir seguindo. Ir seguindo. Até que uma dor profunda me faça querer tombar. Até que uma dor profunda me consuma e me destrua, por fim. Se não houvesse o sono talvez eu morresse jovem demais, louco demais. No sono eu me refaço e sempre recomeço os dias do ponto em que quase parti. Recomeço os dias do ponto em que comecei a ruir. Mas muitos cacos por vezes juntam-se em mim, sem que eu veja nem autorize nem perceba, sobre a mesa, os cacos vão se juntando e eu me sirvo na louça rachada eu me sirvo na droga acumulada. E a cada dia, recomeço do ponto onde fora incapaz de quebrar.
Com os tempos é natural que fique um ranço, um acúmulo de dúvidas e de meandros que não dizem nada exceto o desespero. E amanheço em seguida e esse é um novo recomeço. Esse é um velho jeito de dizer que no amanhã tudo enfim será melhor. O que posso fazer. Espero uma dor incontrolável para nela ruir-me por completo morrendo do chão ao teto, do chão aos cabelos, ruir-me nessa dor e não mais ser paciente com o que me cansa, mais e mais, a cada dia, a cada rima.
Mais uma vez chego em casa. Um respiro de calor do couro colando os pêlos do corpo. Uma vontade desmedida de quebrar as promessas e fumar até o corpo por dentro ir queimando e por dentro jamais poder novamente se refazer. Se fosse assim, refazer o dia sem um corpo refeito. Talvez assim amanhecendo ligeiro fizesse o corpo pedir pela pausa que nunca se pode ter, nem estando ferido nem estando amando. Nunca se pode ter. E o corpo já ferido sinaliza o abandono que o iniciar de um novo dia teima em ofuscar.
Sol. Vem para queimar. Vem para secar e não mais deixar brotar que seja uma lágrima. Seque tudo e mate com calor. Mate sem amor e faça doer. Seja uma dor fudida e horrorosa. Dobre-me por sobre minha espinha e me faça pedir perdão por tudo o que não compreendo. Perdão por tudo e somente pelo que jamais entenderei os motivos. Queime sem piscar os cílios e reverbere-se em halos aumentando a dor da multidão. Transforme minhas janelas lacradas nos aquecedores da casa, torre tudo por dentro e me faça morrer no dia-a-dia da sala cozinha banheiro desespero.
Mais uma vez eu venho dentro de um ônibus que sacode e me bate em seu interior. Mais uma vez dentro do ônibus eu venho sarando alguma dor, deixando o vento da janela escorrer pelo nariz sem sangue sem vida seco, pois também em agonia. Agonias do dia comedidas. Todas disfarçadas com breves alegrias que atrapalham o caminho. Que reerguem coisas mortas e que já não servem. Mas seu túmulo no amanhecer é motivo para recomeçar e o corpo assim jamais descansa mesmo assim quando pede pelo parar. Pede pelo parar. Pede pêlos tocar. Pede pêlos. Pelo ar.
Faço listas. Do que fazer, do que comprar, lista com motivos para não morrer. Não morrer de rir, porque se chego em casa sorrindo tudo se esvai e a dor dos dentes rangendo distancia ainda mais e mais a dor que me apraz, a dor verdadeira, dos nervos roçando madeiras e metais e a lixa nas unhas são para a carne fora lançar. As lixas na unha são para espalhar a sujeira do dia pelo ar. Faço listas. Preciso viajar. Ir a praia que fica ao meu lado onde sou incapaz de tocar porque o terreno é arenoso e nele eu posso ficar posso nele criar raízes e um dia, quando a maré subir, lentamente, avançando a passos curtos de um idoso doente, um dia enfim eu posso me afogar. Eu fico aqui, persisto, não posso finalizar este corpo que cria alternativas para ainda não se ir.
Tudo então passa por esse caminho. Do meu finalizar. Tento diversificar pensar em outra coisa nem tudo a sério levar. Mas já não falo de seriedade, não falo de nada exceto esse nada em que minha vida se transformou. Todo o nada disfarçado e o que fazer com os entulhos que me dou o que fazer com os entulhos que me enchem a casa e espremem os móveis uns contra os outros. Eu já não posso andar. Não posso livremente caminhar dentro de casa. Tudo é pesado e difícil de se abandonar. Porque não posso ser leve e simplesmente me lançar não ao fundo do mar não ao alto de um altar, mas simplesmente partir sem riso e primeiro por dentro vir a me enforcar.
Bebo mais um gole de água e os interiores silenciam para ouvir o som que o corpo pode tocar. Para ouvir tudo dentro de mim dizendo o que eu sequer posso ouvir pois estou surdo e cego e tudo enfim não se parece como é. Tudo enfim se parece diferente do que me diz a pele, quando a olho sempre inerte, morrendo tão aos poucos e fazendo-me acreditar que está viva.
Mais uma vez chego em casa e me afogo em conotações. Em sentidos que não sinto e que são pura contestação do corpo, autônomo, mas preso fielmente à carcaça por mim fundida. Contestação do corpo sob viés da escrita que só eu leio porque a pele ainda está seca e aos tempos seca-se em mim também o desejo. E tudo é possível contornar, tudo é possível contentar com um doce um cigarro um sem juízo. Tudo é possível disfarçar quando não se chega realmente ao precipício. Eu preciso de ajuda. Eu preciso. Eu não sei. Não sei o que pode ser ajuda para quem já experimentou o nome certezas. Não sei se acreditaria em bondade depois do que vejo restar sobre a mesa da casa. Que sequer existe. Que sequer insiste sente-se, por favor, pois também não há cadeiras. E só há o chão. E só o chão. E só no chão. E só. Um chão. Feito pele seca com pêlos como sujeiras sem toque sem reboco sem golpe da sorte. Tudo no mesmo abandono.
a tarde me consome o calor não é calor a chuva não chove realmente e tudo fica assim pela metade como se o dia já não fosse nem mesmo uma coisa nem mesmo outra
a tarde me consome nos minutos em que deslancha eu fico perdido não encontro a vassoura as letras se perdem na bagunça do quarto e eu não quero não posso fumar um se quero
os versos são de tamanhos variados as coisas que digo me ultrapassam para melhor e para melhor ainda nada é exceto somente essa agonia desse meio da tarde desse meio que meio mas que sequer é metade porque o dia acabou de começar mas já vem carregado como se portasse a semana inteira enjoada chata encabulada
poeira analgésicos ah, quanta dor dor que não dói dor estúpida feito dor-despertador que existe apenas para doer e lembrar ao corpo que nele deve haver algum rancor alguma ferida rasgo ou bala não mais perdida
as estrofes relincham de horror como podem nessa disposição são medonhas pavorosas são estrofes ou pilhas de jornal são algo nobre ou o sempre mesmo habitual
perguntas fáceis sem calafrios sem interrogação este é um meio este não é um
um um quê
tudo que me sobra viver será essa a minha obra eu pergunto sem perguntar eu exclamo sem declamar eu afirmo sem declarar a obra o artista o autor
que se espreme e se encanta com a primeira espinha?
Eu gosto
eu sou assim
eu concordo com você antes mesmo de saber o fim
Eu vou por antecipação
não por maldade
eu sou bom,
acredite
É talvez coisa da idade
coisa do calor
do pretor dos olhos
da pretocidade,
Eu preciso mesmo me explicar?
Eu não poderia outra coisa escrever
outras coisas brotar?
Ai, fica mesmo complicado só assim ser
isso dessa poesia pesada que só faz aborrecer
Eu sou isso também
mas quero os ombros mais soltos
quero a coisa do menino me alçando ao vôo
me jogando
não para morrer
mas para morrir
não para sofrer
mas para sofrir
Assim
desse jeito
com essa agitação
com esse pretexto
com essa sensação
de que a vida não vale nada e tudo
at the same time,
humm?
Uma vez eu escrevi que eu percebia a vida, que eu a analisava, no exato instante em que ela para mim se derramava. Como dar nomes às gotas da chuva antes do seu virar rio. Eu vou tentar isso agora. Dar nome aos sentidos. Dizer deste dia, destas horas, das últimas agonias. Mais uma vez eu quero morrer por tudo o que escrevo. Sempre sinto que falta alguma coisa. Não é sempre. Nem sempre alguma coisa. Penso que falte propósito. Cheguei a me chamar de assassino de palavras. Mentira. Não fiz isso. Mas de certa forma sou mesmo assassino. Disponho-as de qualquer forma. Seria qualquer? Importa a forma? Isso é tão genuíno. Isso de se derramar não em sangue mas em livro. Ah, esse momento. Essa vida esquisita toda acontecendo. Quanto a compreender, quanto a olhar e nisso ir se refazer. Eu quero tanta coisa nesse momento. Eu estou tão satisfeito tendo tomado uma caneca de leite com achocolatado em excesso. Eu vou escovar os dentes. Eu vou tomar insulina. Eu vou deitar na minha cama e passar a mão sobre a mim barriga. O que tenho criado dentro de mim? Estarei grávido? O que me faz ser mais do que eu? O que me dá preocupação? Que filhos dou ao mundo? Eu preciso fazer a barba. Eles podem se assustar. Quando começo a falar de filhos as coisas todas revolucionam. Parece que é a metáfora. Parece que meus filhos escondem em si a minha vitalidade. Só se é pai tendo filhos. Não se é pai sem tê-los, a princípio. Paro neles e tudo ganha mais vigor. O que posso dizer que seja pesado demais quando estão todos correndo pela sala e pelo corredor e tombando pela escada! Não, por favor. Não se machuquem. Fiquem mais um pouco sem se cortar. Eu me acostumei com sangue mas não precisamos sempre sangue jorrar. Muito feliz por esse novo começo.
Não consigo te odiar, tempo. É que quando eu caio e fico no chão ralado, você segue. Mas sou eu quem parei, não você quem corre. Como naquele dia em que eu corri feito louco e reclamei que estava demorando a anoitecer. A culpa não foi sua. Foi você quem fez o sol dormir. E eu ali, vendo aquilo, sem perceber, como você estava sendo gentil. Mentira, gente! Esse último trecho está escroto! Mentiroso! Sei lá! Não acreditem!
Uma vez uma poesia declamei dizia os versos de Maiakóvski e neles em uma palavra eu fiquei assim parado assim impraticável como se nela todo um mundo pudesse derivar como se não compreendendo pudesse nela ir me achar nela achar alguma imensidão para o peito adolescente.
Eu cresci é sempre o que acha a gente eu virei homem é sempre a mesma de sempre Mas naquela palavra uma infinitude me reduz pois me faz grande e eterno
Como posso ter crescido se ainda diante dela nada é como eu espero se diante dela nada é e tudo deixa de ser o que seria tudo deixa de ser verso e rima e vira a agonia da imensidão do amor
If what you see here is almost and always the same
Everything is pain and everywhere you look you'll find something about dead about sons about sun burning people about songs i can't sing 'cause i'm going i'm always going away from here...
What could you say when everything here is pain what could you do if hurt is my new name if blood is what it says all the time all the meaning all it hides.
What could you? If it is always so hard to see if what i'm saying nobody can just live?
What could i say for you, so? I think i'm doing this all the time i think there's nothing new only again and again the pain
sometimes more than yesterday sometimes more heavy than ever sometimes i run sometimes i hide sometimes i'm scary of you but all i really want is to hold you now and make you see (read) trought these words what i am made of.
A parada de ônibus óculos escuro para preservar do sol frio as lágrimas que ainda agora teimam em rolar
Na parada do ônibus óculos escuro para nublar as cores e ressaltar a altura do prédio Monstro do qual você se foi para não voltar
Parada no ônibus eu me culpei por não ter ido te ver ter ido sentar ao seu mármore e lhe dizer as palavras que hoje ao vento eu teimo em lançar
Parada entre os amigos sentindo entre tantos sentidos um buraco uma escoriação uma pele rasgada e faltando dentre ela uma costura certa comoção
Parada do ônibus eu volto para onde agora vivo e tudo volta a parecer sem sentido e tudo volta a se chamar vida e já não é tão estranho essa azia essa corrupção na própria lida do dia nada é tão estranho
Parada eu no óculos escuro olho o céu em preto e branco e nele te imagino indo e voando partindo e voando sempre voando nunca voltando
Não importa parada do ônibus eu desço apressado o dia me reinvindica e você no céu eu sempre em seu percalço
Fique comigo acompanhe meu destino ponha sua mão seus cabelos vermelhos interfira o seu sorriso e não me deixe temer nem amar a altura dos prédios dessa cidade não me deixe temer nem amar meu próprio e negro umbigo
Não me deixe reconhecer minha face no fundo de um ou outro precipício ainda não não me deixe
Estou com você na parada de um ônibus
indo e sonhando partindo e sonhando sempre sonhando sempre você ...
É bem isso o que tenho para aqui dizer - uma ou outra palavra que eu ainda não saiba compreender. Sobretudo, uma inversão na direção. Um rosto caído de lado. Um contato mais íntimo com o chão.
Dentro o meu coração grita de felicidade. Uma microcoisa que de mim faz parte ou que dentro de mim me invade. Confuso assim. Parece metáfora que se confunde com o objeto. Parece alguma coisa tão genuína pois a simplicidade eu espero.
Os cinco (6) corpos ali jogando. A escada, as cadeiras, a mesa, o dedo diante do rosto silenciando. Quanta compreensão ali haveria? Quanto valor dado às pequenas coisas que noites afora eu escrevia? Estou realmente maravilhado. Isso não é nada. Não quer dizer resultados. O que importa o resultado.
Hoje estive no apartamento 201 e adivinhe? Fiquei ligeiramente assustado. Não pela desordem ou pelo o que vi através da janela. Mas assustado por ver ali vivo - pulsante - um caminho e não antes a sua descoberta.
Assustado por ver ousadia onde haveria o sorriso da platéia. Não precisamos sorrir tanto assim. Sorrir também surge quando não podemos discernir. Sorrir é também um modo de se integrar. Eu não consegui sorri. Eu apenas consegui contemplar. Quão complexa movimentação podem os corpos fazer.
Voltando aos corpos que ali ventavam - não vejo a hora de acompanhar o seu salto a sua queda o seu silêncio e sua paquera. Quero muito compartilhar desses microsegundos. De toda essa simplicidade que de mim ganham agora um mundo, pois revolvem a vocês.
[enquanto isso, espera, ou, um trecho]
VOCÊ VEIO LÁ DE DENTRO? Infelizmente acabei de ser convidado a me retirar. E COMO ESTÃO AS COISAS POR LÁ? Como poderiam estar? Se estão lá dentro é porque não estão nada bem. EU AQUI FORA TAMBÉM NÃO ESTOU NADA BEM. É algum parente seu? NÃO. Um amigo? NÃO. Quem é? VOCÊ ESTAVA EM QUAL QUARTO? No do lado. E O DO OUTRO, SABE ME DIZER ALGUMA COISA? Sei que estamos nas mãos de uma mesma enfermeira. E ONDE ELA ESTÁ? Pediu que esperasse aqui fora. Em breve trará notícias.