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segunda-feira, 31 de março de 2025

Da covardia moral

Nalgum lugar
Saberia explicá-la
Empírico 
Exalo seu característico 
E primordial 
Hino

Registo, portanto, o suplício 
De um corpo cansado
Da luta não convicto 
Mas sequestrado
Pela imaginação 
Do livrar-se

Disso

Persiste em mim 

Quer continuar a despeito de

Infiltra-se em cada gesto
No verbo no olho perscrutante
Que tolo
Digo de quando em quando 
Queria talvez doar-me
A outros jogos 

Mas alarma
Como resto de amor 
Ética desobjetificante
Alarma em mim
Outro princípio quase reconfortante 

Resista
Não ceda 
Isso é hábito 
Performatiza a vida

Até ela provar-se outra outra

Que cansaço. 
 

domingo, 23 de março de 2025

Lá Fábrica

Nenhuma palavra
Noutra costurada 
Traria a mim
A paz da morte
Tão de quando em quando 
Desejada

Um oceano de cinismo 
Alagou este mundo 
Já não parece possível 
Ver com olhos lúcidos 
Desejar como quem 
Só respira 

As exigências corroem o ânimo 
Para onde correr
Que fazer com tanto abandono 
Que indagação traria calma
À pergunta
Que não cessa

A desfaçatez 
Palavra estranha 
Por que ela me chama 
Onde estive para que ela me encontrasse 
Onde eu não sei
Mas sinto 

***

Además 
Alguna opción tiene que existir 
Para que sea más grande 
El futuro 
Ni perfecto ni presente 
Algo o alguien 
Alguna cosita
Un sonido
Poco más que todo eso 

Caminando sobre el mundo 
Inmenso a través de la gente 
No sería una vida humana
Aquello que siempre me llamó la atención 
No tiene mi rostro 

Pero ve todo, todo

***
 

sábado, 22 de março de 2025

Entorpecer

Meu olho direito
tremula 

Minha cabeça 
sonolenta

Minha paixão inteira
deixar ser 

rendido pela embriaguez 
estou rendido de ter que 

Meu sono
que não é meu

Meu mundo 
que nunca 

indifere

Dói é ter consciência 
 

quarta-feira, 19 de março de 2025

O seu movimento


É preciso lembrar
o modo pelo qual
o seu cuidado
tomba sobra
uma vida.

Quase invísivel
há crenças
de que escutas
o ardor dos
dilemas

e delicadamente
faz outro gesto
inaugura
outras lidas
diárias.

Talvez não exista
em mim
tenaz confiança
de que daríamos
um jeito,

mas eu sinto
venho sentindo
eu vejo
venho vendo
que sim

o seu movimento tem sido o amor.
 

sábado, 15 de março de 2025

Licença

Sem pedir
A noite chega

Os vidros
Do automóvel 
Choram

A luz fica azul 
Para combinar 
Com essa tristeza 

Delicada
A fome escala 
Distâncias aumentam

O céu noturno 
Desconhece escolha
Ele escurece 

Aqui e lá 
Haveria de existir 
Dor como a sua 

O pássaro sozinho
A árvore sem vizinhas 
A garrafa na berma 

Para além do humano
A tristeza 
Faz impérios 

E assim
Também 
A fome

Eco da memória 
A voz da mãe dizendo 
Leva um biscotinho

Na mochila
Livros, computador 
E moedas 

Nem um biscoitinho
Nem um rebuçado 
A tristeza assim, licença, 

Fica inevitável 
 
 

Reconhecimento

Não valeria desfazer o desfazimento
para em seu lugar
vibrar vitórias

Vitória não há
por vezes é isso, a vida
para um pouco

e respira

Dos espantos
menos sonhados, ainda assim
eles viriam

Do inacreditável
acredite, a sina
repetiria-se

e respira

respira

Nada do que acontece
em vida acontece
noutro lugar

que não aqui

onde você agora
respira longo

pedindo ao ar
aos céus
ao bem fundo do antes

algum sossego
afagante
você pede

Não o antes
nem bem o depois
você pede um

descanso

e respira

como se o ar

solto no ar

fizesse em ti
um levante

um levante

e respira

como antes

respira
 

terça-feira, 4 de março de 2025

Aqui ao lado

Não era a primeira vez
E mesmo que fosse
Não teria sido
Isto que chamávamos
de paz.

Estar aqui
Por certo estiveram
Lado a lado
O pé dium
No doutro
esfregando-se.

Era assim que deveria ser -
ele dizia
sempre que tempo
entre os amantes
se instalava.

E o som que faz, você não gosta? -
era pergunta boba e abusada
O som desse pé meio seco, o seu,
Na minha pele tão macia -
e eles riam
e riam
e davam-se beijinhos
e boa noite, bom dia.

Aqui ao lado
é como se os amores
já tivessem se esbaldado
em cada um deles
em cada uma de suas
tantas vidas
tantas vidas.

Dizem que os amores das outras vidas -
um deles comunicou
É que fazem a gente conseguir essa façanhade agora -
completou, olho no outro, que então disse
Que façanha, tá maluco? -
A façanha que é te amar -
E amar -
E me amar -
Amor, amor, amanhã -
beijinhos de boa noite.
 

segunda-feira, 3 de março de 2025

Vaguidão

Vagueias por entre palavras
porque perdeste um sentido
para a vida

Ainda que tenhas elogiado
a mutabilidade de tudo
Mesmo que tenhas dito
o quanto a transformação
é o fim e o princípio

Suas rimas no entanto
nada te ensinam
Pois seus ouvidos
só querem os sóis

Sois sozinho
nesta sina
de sofrer tão
logo acorde

o dia

Passou
vago
Passou o dia
onde estiveste?

Perdido entre versos
que nada curam exceto
o que nada curam
exceto o quê?

Nada curam

vaguidão tremenda
vaguidão responsável
pontual e insistente
como uma desistência

que pouco a pouco
vai sendo construída
desde dentro
dentro
dentro
dentro

desistência do quê? - a fulana pergunta
ao que respondes
da vida
da vida
da vida
e do amor