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terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Da mudança

Não muda
Aquilo que continua
Diriam que é porque é 
Que foi porque foi 
Que assim estava posto
e ora
Discussão encerrada. 

Aquilo que não muda
não continua. 

Continuar seria como transformar-se,
na urgência calma de um estrondo, 
continuar seria uma sucessão de tropeços, 
seria um sucesso no sentido da imperfeição, 
continuar continuaria tudo menos o mesmo.

Ante ao estranho 
Que sua casa invade 
Você pergunta se isso
Ou aquilo, o estranho 
Ele te olha e quer saber 
Sua disponibilidade 

A quantas anda? 

Você olha em direção ao subsolo 
Um armário no tempo
Uma flecha quebrada 
Sua disponibilidade pano furado
Prateleira nunca consertada
Seu dispor a si mesmo
Torneira velha, goteira acostumada 

O estranho te convida 
Vamos? 

Não muda 
A vida insiste 
E a sua ignorância sobrevive 
Ou você tenta
ou se engana 

Você se engana 
Você se engana 
Você se engana
 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Começa-sempre

O nome diz tudo.

O nome esconde. 

De longa expressão 
O começa-sempre
Vira abrupto o mesmo
Sempre o mesmo. 

Mas o sempre
Nada mais faz que não 
Incessantes inícios 
E continuações. 

Mesmo que não, 
Mesmo que não mais, 
Ainda assim, o começo 
Assegura algo que não estava cá. 

Li ontem que um rapaz morreu. 
Rapaz que não conhecia.
Rapaz que cumprimentava-me
ao cruzarmo-nos pelas avenidas.

Esta cidade
Dá início até ao fim. 

A ele desejo outro recomeço. 
Não o conheço, não o conheço, 
Mas a ele desejo
um baita sorriso quiçá 

Um beijo.

¬ para D. P.
 
 

sábado, 11 de janeiro de 2025

Home

Com atraso descobririas que sim, tens tu também família
Não falo das amigas, gente nova reunida 
Família eu digo como mãe, pai, irmão e irmãs, tantas netas e os netos, sobrinhos tantos e tantas tias 
O que mudou? 

Como quem toma um medicamente forte, pura química 
Ontem estavas sem nervos para sustentar velhas armas 
Foste assim engolido pela lida diária 
Falaram disso e da fila do mercado 
Do fulano e seu fim nefasto 
Quanto antes já havia. 

O atraso é saldo de certeza acumulada. 
Certeza feito Deus, velha e mais que empoeirada. 
Certeza assim feito chicotada. 
Assim feito da ditadura militar à democracia e você nada, você nada.

Ser pontual num evento que você poderia simplesmente faltar.
Presente sem certezas nem embrulho, estou aqui, ela diz, o que você precisa me contar? 
Nem toda a vida será a mesma. 
A sabedoria as crianças pressentem.
Faz tantos anos desde o fatídico desencontro. 

Algo mudou. 

Agradecemos, tranquilas e sem enganos.