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quarta-feira, 30 de outubro de 2024

III.

I.

O modo pelo qual 
A vista enxerga
O buraco informa
Seu tamanho. 

II. 

Antes não havia
Preocupação não enzima
Estudo sonoriza futuro
Morte era nos filmes. 

III. 

Vai-se indo,
noite após cada dia.
Já não importa tanto 
quase nada. 
Sobrevive o desejo de que seja veloz, a morte, 
e sem espetáculo. 

Alguma doçura, pedimos. 
 

Homens


Destroçam
Destratam
Desportam
Despedem
Desembarcam uma nau de paixões sobre este corpo

Dizimam
Disseminam
Dizem coisas que olha
Discriminam
Dispensam
Dissolvem a História 

Homens
Atrapalham
Alguma concentração 

quando passam
pela rua com suas calças 
carregando suas malas
e seus tantos males

Oh, azar
Oh, barbuda sorte. 
 

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Expanto


De fora
Ela olha
sem surpresa
Vosso comportamento. 

Na distância
Balança a cabeça 
e confirma
Vosso comportamento. 

O outro viu
O senhor, do canto, também 
Mesmo a polícia 
viram todos, sem escândalo 

Vosso comportamento. 

Mas, viste tu? 

Não te incomoda? 

Não causa ânsia? 

Nojo, Náusea, Nada? 

É estranho
Um hábito 
Vestido de
Gente.
 

Dizer que tudo ficará bem, dizer que nós ficaremos bem


Não postergar o gesto
Fazê-lo
Ora, sim, porque não? 
Toda a gente sabe que alguns dizeres agem menos pelo futuro
Fazem mais pelo instante
Em que nascem, ditos, e morrem, 
Ouvidos. 

Confia, ela pede
Vai ficar tudo bem, ela insiste 
Ficará tudo bem
Entre nós? 
Tudo há de ficar bem
Repete comigo
Ficará tudo bem, meu bem. 

E olham-se
e os dias estão a amanhecer mais cedo
e os medos mudaram 
Não têm mais a mesma feição 
de antes. 

O céu 
Os dias
Os sonhos te cansam

Durma menos. 
 

Espárragos


Dos braços os pelos partem
Tortuosa estrada sob pele
Músculos e ossos
Beijam-se

No topo do cimo
Perdem-se os finos fios 
Talvez o motivo fosse ter tido os filhos
Que não tiveste

O longo camião não pede ajuda
Ou acelera ou escuta
Escute
Escuta

Nessa via só se vai
Nunca se volta
Nunca se volta nessa
Vida só se vai

Ainda que 
Esticar as pernas na cama
E dobrá-las, para novamente
Esticá-las

Dê imenso prazer. 

 

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Decisivamente


Nem tantas palavras. 

O acontecimento em si
firmaria o aprendizado 
Tempo na coleira
contemple. 

Elogios aos traumas
Descrições minuciosas
A família ou a falta
nada disso ali seria convocado. 

O aprender outra vez
pelo cansaço 
Do resmungo inaudível 
que autentica

¬ Já tinha percebido isso antes, não tinha? ¬ e tínhamos, de facto, tínhamos. 

Não é gostosa uma vida que ao ser vivida é constantemente invalidada.
 


quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Nem tanto, um bocado


E ela ocupa os espaços 
Físicos, interiores, imaginados 
A tudo inunda
E a toalha era nova
nada secava. 

A tristeza tem esse dom
ela sabe espreguiçar
A cada sua longa sesta
lá estávamos a não dormir 
lá estávamos a não descansar. 

💥

Mas se tanto assim
ela a tudo modifica
Por princípio ético 
você não a mudaria?
 

sábado, 5 de outubro de 2024

A promessa


A promessa seria feita 
também de tudo aquilo
que ela não soube realizar. 

Ela se realiza com seu próprio fracasso. 

A promessa tem fome
das mentiras e palavras 
sinónimas tais quais

utopia
sonho
sucessos e seus sucedâneos. 

Ela tem fome
já ele,
ele tem sono. 
 

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

(a ponte, a ponte, a ponte...) Por que, homem?


Observe o homem
que lhe arranca o contexto
para em seguida dizer
qualquer coisa eu te ajudo

*

Observe um homem
nele junto virão
todos os outros
afinal, são homens

*

A ponte foi quebrada
pelo homem que decidiu
quebrá-la (ele argumenta que...)
mas tenho cá algumas tábuas

Diz o homem
o que você deseja
que seja feito
devemos reconstruir?

*

No peito bem dentro
a pergunta pulsante
estava presa no antes
mas por que destruiste a ponte

(a ponte, a ponte, a ponte...)

Por que, homem?

*

Faziam dias, horas
e meses, que aquele homem
não se sentia
grande como outrora

dele

fizeram.

Por isso quebrar
feito saudade errada
para fazer lembrar
da pátria amada

Ele, homem
que história triste, homem
que ladainha
mesquinha.