Minha tristeza funda um mundo
Em que o amor é fruta
Que germina só de haver vento.
Mundo ventania.
Minha tristeza funda um mundo
Em que o amor é fruta
Que germina só de haver vento.
Mundo ventania.
Na esquina
Longe daqui
Te miro na esquina
Parado
Contemplo seu movimento
Completo seu gesto
Em mim, acolhido
Danço os olhos
Parado, eu consterno
Haveria algo fora
Que coubesse aqui
Neste abraço
Ontem
Inda tão vivo?
Amo-te
Sem ainda te amar.
Sinto tua falta
Sem tanto te precisar.
No tempo lento
Divirto-me nesse encontro
Desencontrado.
Na cama em que dormimos juntos
Sua perna estica e me derruba
Ao lado.
Que lindo é não ter que fazer força
Para amar.
Meus olhos brilham te vendo
Sem nem te ver.
Obrigado.
Num táxi
Vendo o mundo a fresco
Resto com pernas cruzadas
Mas atento à correria
Assim me vou
Assim eu fui
Atirando palavras
Sonhando ações
Cansado do título
Eu hoje sou eu sem maiores complicações
O cansaço mora dentro
O sorriso salta fácil
O sono, quando contemplado,
Me faz ser pedra sem embaraço.
O amor vem e vai sem que eu sinta falta
Tudo opera
E estar vivo é mesmo muito menos
Do que se espera da vida.
Vida sem graça constante
Via estradas com quebra molas
Meus dentes
Aquele enjoo
O súbito suicídio de mais uma
Ou um
Aquela pedra no asfalto
O mar que me amedronta
O céu quando eu o olho
E a certeza de que meu verbo existe
Para te dar esperança.
Hoje talvez eu pudesse existir só
E assim.
Mas não é verdade que eu reste
Enquanto houver qualquer outro um
Próximo a mim.
Não sei se não te amo porque meu parâmetro do que é o amor seja outro.
Ou porque talvez eu não te ame mesmo.
Como saber?
Ei,
Olho fundo no abismo dos teus olhos.
O amor que sinto por ti
É o mesmo que o que sentes por mim.
Riuva
Fina
Leve e forte.
Sua cor foge ao nome.
Sua fome nos excede.
Seu cuidado
Essa palavra, o cuidado
Te contorna
Em traços que me perdem da dor
De ser quem fizeram de mim.
Morro por amor
De amor, amando, me afago
Me afogo.
A sorte que há na vida
Mora no piscar do seu sorriso.
Minha luz
Meu fim
Meu princípio.