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quarta-feira, 30 de abril de 2014
Tinta Branca na Barba Preta
Deixei secar
Em mim ficou
Atrasei-me para o destino
Mas tudo bem
estou bêbado
e feliz
sendo apenas seu amigo.
mas
e me confunde
eu cedo
eu viro sede
sede a tua sede
e amanheço
sucessivas vezes
perdido nos seus pelos
e ausente do meu sentido
o que o amor faz, não?
eu sumiria hoje
se soubesse
fato
que viria de novo a ter contigo.
destinatário
escrevo
porque as letras não cessam de a mim se anunciar
mais uma vez
definitivamente, mãe
eu queria ter sido música.
Título da postagem
viver também não
alguma coisa deu errado
ficou tudo parecido
viver
mentir
tudo igual
a poesia
agora
só com força
só com força é capaz
parece capaz
de dobrar a esquina
e sobreviver
ao instante tremido
que horror
meu deus
que eu nem acredito
talvez seja isso
talvez eu devesse
lhe ser abrigo
vem ni mim, meu pai
dorme aqui
e me ensina como amanhecer possível.
Cigarro.
Não.
Falta-me coragem para pôr fim ao meu estado pleno de abandono.
Não posso com o eletrônico.
Preciso acreditar que se alguém manda em mim
sou eu
ou o salto
do alto do prédio
Salto final.
Perdão.
sem deixar recado.
Fiquei prático
pragmático.
Os olhos
não me chamam
As bocas
nada me dizem
Exceto
há fome.
A agenda mesmo
me esqueci.
Parei de comprar canetas.
Estou apenas anotando as dívidas
feitas a ti
por mim.
Baque
Não quero ser protagonista, mas o fiz
me vi naquela situação
e quis apenas saber de mim.
Por vezes, vai-se no fluxo do outro
e se assassina a si próprio.
Não.
Desta vez
daquela
Não.
Em meu peito
a incompreensão clara do instante.
Deixei que os outros falassem
Eu já havia entendido
e mesmo certo disso
ouvi
ouvi
ouvi
e concluí o já sabido:
estava certo.
Que dureza.
domingo, 20 de abril de 2014
consciência
não era esse o nome
é que depois da guerra
da semana passada
depois do campo exposto
em batalha
eu perdi a noção do corpo inteiro
eu perdi a dimensão capaz
de toda e qualquer palavra.
fiz amor
repetidas vezes
e mesmo assim
ali estive perdido
pensando no verbo
capaz de segurar longe
distante
o inimigo.
o coração foi alvejado em campo de batalha
as minas sob o solo explodiram-se feito granada
voltei nu e sem amor
sem capacidade para o pensar
mas voltei
agora
estou me curando
vendo em seus olhos
um sorriso ameno
me convidando ao continuar
como se me aconselhasse
confia, já estando tudo perdido
eu estou aqui e você
pode me confiar.
terça-feira, 15 de abril de 2014
segunda-feira, 14 de abril de 2014
provavelmente não
provavelmente você não sabe
mais uma criança acaba de perder a mão
um pedaço do pé
e viu, sem ver,
abrir dentro de si
vasta erosão
não, provavelmente não
os jornais não darão atenção
nem as fotos
das mídias livres
serão capazes
de tamanha descrição
crianças
massacradas sem opção
tanques de guerra
desfilando imunes
avançando asfalto
paredes e calando a vida
provavelmente não
provavelmente você não sabe disso
nem eu saberia te contar
eu perdi o dom da palavra
no exato instante
em que elocubrei
isto que desejaria te contar
eu perdi o verbo
e tudo ficou estático
um sorriso tirado do rosto
e escondido entre os remendos
do que fora um bolso
tudo rasgado
famílias inteiras
agravadas pela chuva
tentando manter de pé
o sentido
de um tempo
tão insensato
por que não o fogo?
ao invés da chuva?
se há o céu
há também o chão
se se abrem largos olhos
dos quais despencam água
por que não abrir o chão
para formar bocas imensas
e imunes
à covardia?
engula-se, mundo
leve-se de volta, sem piedade
vai, será melhor assim
depois, entre o charco
a gente se reconsidera
e tenta de novo entender
como começar de novo
como recomeçar,
mas sendo todos
parte
da mesma miséria;
o homem.
uma comoção delicada
dorme agora
entre as espinhas
da minha coluna
arrasada
dorme na beira dos olhos
lágrimas ainda não lágrimas
dorme tudo delicado
em meu peito
hoje
aqui
a ira desse mundo
por vezes
me toma inteiro
e resto eu
dentro de casa
só (com o gato)
perguntando-me:
de que jeito?
será possível
ultrapassar
o nó deste tempo?
a poesia
ansiosa
escapole a boca
vira verso
e faz tiroteio
qualquer violino hoje
se tocado
me queimaria o íntimo
faria de mim
recreio passageiro
como durar
frente à miséria do homem
rico em desnorteio?
uma última fogueira
em dilúvio
me chama
para onde ir
que não somente
para o cerne da vida
para o centro
dessa merda toda?
terça-feira, 8 de abril de 2014
bogotá_01
eu agradeço
aos que quiseram dizer
contabilizar os mortos
de contar as vitórias
parei de vez
com o acúmulo sobre-humano
de versos
e linhas
a troco de quê?
vi num poeta o freio que precisava
e nele pisei
no freio do poeta
que com versos
me freava
então
fui dormir
fui beber outro café
fui perceber
que não seria mais
sobre o que sempre foi
agora
poesia
apenas
para contar
mortos.
amanhã eu me engano
de novo
ou sim
ou não
talvez...
altitude
e volta, passando fome
meus olhos ardem mesmo vivos
e querem apenas a escuridão e o abandono
minhas pernas finas
- hoje, ainda mais -
tentam te encontrar, mas não
faz frio
é outro país
e eu não saberia ultrapassar o tempo.
penso sobre tudo o que conversamos
penso e desisto
porque não posso nada
frente ao que vem
o que vem
já está dado
se eu não sei o que é
- exatamente -
mesmo assim tudo virá
portanto,
persisto em quarto de hotel enjaulado
nutrido à distância
pelo amor
no qual escolhi
ou não
acreditar.
tudo se acomoda.
mas confesso
não vejo a hora.