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sábado, 30 de junho de 2012
o fundo da noite
a duração de um dia
diz respeito apenas
ao restar.
já não importa
se cedo
ou tarde
importa apenas
durar para além
dos segundos.
criar raíz
no silêncio da passagem
dormir com peito cheio
peito inflado
ansioso por fim
ansioso por ser
museu em si lacrado.
dorme em paz,
durma bem esta noite
deixe-se dormir sem parar
avance destemido
sem medo do mundo da noite
por mais que você o procure
sabe-se desde ontem
não irás
nunca a fundo
o tocar.
quinta-feira, 28 de junho de 2012
JUSTO UMA IMAGEM
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Sisudas Palavras
SOLILÓQUIO PARA DISTRAIR A MORTE
finesse ~~
consigo dobrar a mentira
e nascer para além
do sucesso que me persegue
e embriaga.
eu sei que se eu quiser
posso morar sobre as linhas
e procriar versos
criar exércitos
e implodir alegorias
da contemporaneidade.
que eu posso amar
que eu posso encontrar uma religião
e nele me prender
e a ela me ligar
sem ironia
ou descontentamento.
eu sei que posso citar drummond
parodiar fernandos e outras pessoas
sei que posso inventar palavras
e desviar fáceis analogias.
que na falta de um amor
posso passar um café de três formas:
- na cafeteira
- na cafeteira italiana
- no bule.
sei que mesmo assim
por mais que eu me reinvente
sempre serei este cara
em processo descontente
tentando abrir o sublime
que a corrida dos dias
massacra em forma
de chocolate
em forma de presente
em forma de filme mudo
ou obra de arte.
eu sei que no fim
que seja
algum traço mais fino
há de beijar minha pele fria
e fazer por último
aquilo que dizem ser
ah comunhão!
amador
eu poderia permanecer calado
e então só fazer poesia
após um atropelamento
presenciado.
eu poderia permanecer quieto
em casa protegido
e acalorado
e só então escrever poesia
quando um beijo me fosse pedido
ou arrancado.
eu poderia continuar mudo
e resguardado em silêncio-segredo
eu poderia nem sequer justificar o mundo
eu nem sequer falaria dos desejos
para que a poesia viesse por necessidade
para que o verbo fosse beijo a dobrar a linha
e fazer saltar ao cúmulo
algum resquício de agonia sincera.
cansei de inventar dor de amador.
terça-feira, 26 de junho de 2012
to give right.
sometimes
i use an other language
to say the same things
that i feel
since i was boy.and then
i try other combinations
i play with my tongue
and words drop off
as if it was
my breathing
dying.i think about what i am now
i think about what i am not
if it were possible
i would like
to paint me again
i would like to write
new contours
of my face
of my fingers
and desires.a new arrangement of skin
more powerfull
more playfull
maybe
even more weak
so could break
and make my inside
meets the sun
and the fog
and the fire
and not anymore
metaphors.sometimes i play with strange words
sometimes i play with strange fellings
that i really know
not be able
to cross.
Consumo
Sim, eu dormiria triste esta noite. Mas resolvi tentar mudar o fato. Voltei a este computador e escrevo, enquanto ouço a mesma música me confortando sem cessar. Eu não posso me dar muita confiança. Alguma coisa aconteceu e eu não posso me permitir continuar essa melancolia, essa coisa sem nome, há tempos atrás eu escreveria essa azia. Mas não. Hoje é quase falta do que fazer. E não é porque falte trabalho (não mesmo. Estou excessivamente repleto de trabalhos a fazer). Mas é sobre mim. Não sobre o trabalho. Esse lamento é sobre o que me tornei. Menos isso. Talvez seja apenas sobre o que eu não soube prever, mas que enfim, hoje eu sou.
Os verbos estão mal conjugados. O sorriso guardado em algum lugar. Eu hoje quase inteiro estou vencido. Mais uma vez, eu querendo sumir por um tempo. Eu querendo desmanchar, ir na chuva, no vento. O que seja. A vida é ingrata. A morte também. Quero dizer: eu queria estar escrevendo alguma coisa que me fizesse durar mais tempo, mas as palavras que saem saem sem nem mesmo eu ver. Eu digito sem mirar as letras deste teclado. Eu digito sem caneta, sem papel, sem abraço. E não que falte. Eu hoje amo e sou amado. Eu hoje estou repleto de amigos, repleto de coisas boas ao meu redor. Mas resta em mim perdido um mistério.
Uma revolução sem começo nem fim. Revoluz meio.
Permaneço entretido na possibilidade de uma vida que ainda não me veio. Não falo de dinheiro, de sucesso, de casa cozinha e banheiro. Fala de uma vida enquanto propósito para além dos tempos. Falo de uma vida no que pode haver de mais invisível. Eu ainda crendo nas coisas que não se revelam, nos nomes que não nomeiam. Eu cansado das coisas, das pessoas, eu querendo ver tudo rachar ao meio. Mas toda noite aqui sentado a escrever aquilo que um dia me disseram ser poesia.
Se estou triste? Não, é só chateação. Que coça, que entorpece e me desorienta de qualquer caminho.
Talvez um café (que não veio).
Um bolo de nozes e um refrigerante.
Sim, um bolo de nozes e um refrigerante.
Um último cigarro.
Os dentes escovados e o engano de mais um dia não-realizado.
Queria escrever poesias, mãe.
Não queria sofrer o mundo,
não queria sofrer tanto o jogo
ao qual
me fiz
destinado.
Diálogo Interno
Eu não fui honesto.
Peço desculpas.
Ontem dia foi longo.
Tomei pouco café.
E nem sinto fome.
A impaciência que me consome dura o tempo.
Não fui honesto.
Nem contigo nem comigo.
Mas ainda assim hoje eu canto.
Queria que você visse.
Não precisaria de nada mais,
além de você mirando este segundo
no qual escrevo em silêncio.
Você não é honesto.
Você não é saudável.
Tudo bem.
Converso comigo mesmo nas noites frias de inverno.
Converso comigo mesmo na falta de sucesso
ou ânimo ao jogo diário.
Esqueço-me.
Perdão.
Não era para chegar longe.
Apenas hoje
também como ontem
Lembrança.
--
segunda-feira, 25 de junho de 2012
frozen family
só mais um número no final das contas
os volteios
tudo armado
para ser número
logaritmo
tudo armado
ao número
preso
toda a querela
aqui resta
no íntimo
expressa
em dízimas periódicas
flamejantes
à eternidade nula
só se soma
mais e mais
a cada ponto
e mesmo a cada
linha
só se numera
mais e mais
o arrepio perdido
eu não sou poeta
eu sou tísico
eu sou físico dos fracos
frígido
e inda assim
sou crente nisso
sou crente nisso
--
aqui entra um nome qualquer
tanto a busquei.
hoje, sem exagero ou drama
percebi aquilo que aqui
deixo assumido:
eu perdi a poesia
no exato instante em que a encontrei em mim
e não no mundo,
corrido.
Deserto
As ruínas
reunidas
Formam volumes
sem sentido
Tudo abandonado
desde ontem
Desde o início
tudo ontem
desde abandonado
a desistido
Ruínas
Volumes
Tudo sentido
no entanto
Sem.
14h15
Você poderia me perguntar se tudo isso é verdade. Você poderia me olhar fixamente e segurar meu rosto, caso eu quisesse de ti me esconder. E então, mais uma vez, você me perguntaria silencioso: o que aconteceu? E pediria me conte, por favor, me conte. E eu balançaria a cabeça lentamente, como se dissesse um não medroso e incapaz.
E como numa dança, tudo de novo se repetiria, para que alguém que porventura estivesse nos vendo, enfim, para que este alguém entendesse um pouco mais sobre nós. Um pouco da nossa batida. A cabeça. O olhar fixo. O não tímido, sempre um não, sempre tão tímido. E então alguma fala incompreendida pela distância de nosso voyeur.
Só que desta vez eu diria tudo. Olhando a ti ou não, eu olharia. Eu diria sobre as coisas que me atormentaram nesta noite, diria sobre os sonhos de guerra, sobre os sonhos que descrevem e me lançam em ladeiras com rodinhas. Eu diria das coisas doces, das surpresas não bem-vindas. Eu contaria a você o meu tremor e seu olhar, lento e fixo, de novo e mais uma vez, me consertaria.
Lá longe, na distância, nosso voyeur entenderia se tratar de reconciliação. O que ele nunca soube, porém, é que entre nós dois não há desenlace. Nosso encontro é sempre de novo, e mais uma vez, devoção mútua e escuta transparente.
Não importa o que pensem os outros. Nem que nos vejam. O que persiste entre a gente ainda é privado. E, por isso mesmo, de todo o mundo.
--
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Lustosa
Veja:
eu subi andando
Numa mão um cigarro
Na outra um café duplo
E no peito
inchado
Veio você aquecido.
Por um ou outro segundo
Tudo me parece impossível.
Porém viro a curva
piso sobre asfalto meio liso
meio risco
E enfim
Seu sorriso antecede
Um atropelamento.
Não estivesse eu tão por ti
Acalorado
Teria já morrido tão mais vezes
Do que pode um gato.
Espero:
sentado nessa esquina
O café no isopor esfriado
O cigarro destruindo dentro
as hemoglobinas
No entanto
No coração
Sua insistência jorra sangue
em chafariz real
nobre
E sepucral.
segunda-feira, 18 de junho de 2012
Meus sonhos
Perderam-se.
Onde
que não os vejo
que já não sei lhes dar
nome
ou roupa
Capaz de sobreviver
ao vento
Destes tempos?
Meus sonhos
feito uvas
Verdes
se empalideceram.
Perderam tônus
perderam o tango
que tanto
os tramava,
meus sonhos
desaqueceram-se.
Como
se estive aqui
Dia e noite
a usar o corpo
a suar o mote
pretexto-encontro
O corpo?
Meus sonhos
partiram na tentativa minha
de não os deixar distantes
Eles se foram.
De que vale
a insistência
se do outro lado
sonhamos tudo
menos
o outro?
Par
Sobre si mesmas
cada uma se deitou
e o que estava ao redor
Se comoveu as vendo
assim
tão em si
Deitadas.
O vento passou lento,
observador.
O sol mirou apenas a outra janela
A outra fresta
O sol mirou apenas
a frialdade que sua morte
Mesmo enquanto morte
afastou.
Ele entrou em seu quarto.
Abriu a outra janela, sempre a outra.
E a mirou: a mesa,
sobre a qual
O vidro amarelado
já feito cova
Acompanhava o corpo pleno e fino
E longo
das duas
Das duas
das 2 rosas.
Mortas,
nesta noite
elas exalaram um perfume cor de romance.
Mortas
ontem e ainda hoje
Elas me fizeram companhia
enquanto dormi
contando
os fiapos de tempo.
Sobre a mesa
ressequida,
A poeira de ontem
vira hoje neblina
e confunde o título
do poema
não todo
escrito.
Cristo não há
nem em bíblia
nem em pingente
Sobre a mesa
o calendário dorme deitado
e inconsciente
A lanterna queimou
as chaves se perderam do molho
Deus,
para onde ir
se mesmo as moedas
Excederam o cofre?
Caneta
Papel
Tesoura
Pedra e cinzas
sem fim
Cinzas sem som
navegando por sobre esta mesa,
interrompida.
Que poesia pode haver nesse esboço de vida?
O gato adentra o quarto
Pula sobre a mesa
e tremendo sobre livros esfarrapados
Faz saltar cinco pulgas
negras
e engordecidas.
O parque está armado.
Farão elas sobre a zona
Poesia?
Talvez sim.
Talvez saltando
uma ou outra
poeira embrutecida
Talvez sim
as pulgas façam
Hoje
A poesia que não veio.
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Binóculo
Faça-me quatro perguntas bem cabeludas.
Primeira) Você curte saber e fingir-se de não sabido?
Segunda) Você sonha em ter mais dinheiro que sua prima?
Terceira) Quando você tiver dinheiro, saberá lidar com descontentamentos?
Quarta) E se fosse preciso morrer, você iria sem reclamar?
Bom,
eu vou tentar responder.
Primeiro porque mesmo curtindo o meu corpo depõe contra mim e me faz doer.
Segundo que minha prima está passando por terríveis condições financeiras, assim como eu.
Terceiro que quando eu tiver dinheiro, alguém escreverá nesse blog que não eu, então assim…
Quarto porque se for preciso morrer, eu com certeza já terei ido.
Sou fã.
Deste descabimento
revestido
de poesia.
Gasto
Gasto
Gasto
E no final das linhas
haverá sempre
mais uma
e outra
E uma mais
e outra menos.
Melindred
Por que você trabalha tanto?
Para que eu não me diminua
ao extremo
quando um dia vier a perceber
Que fui incapaz de amar
Que fosse uma formiga
a dividir comigo
Uma rosquinha mabel
numa manhã de segunda
feriado
do sol
e do intento.
Fatalidade
O que mais me aborrece
É sentir
que hoje
Diferente de ontem
Não faz sentido voltar
a ser quem eu não quis ser
Quando acreditei
que ser isso que hoje eu sou
Seria o melhor para mim.
Sem Posto
O poeta que um dia achei
que fosse
Morreu
Em vão
meu corpo procura os verbos
que as mãos
vencidas
Não mais sabem conjurar.
O filho que um dia
minha mãe fez
Sem pai nem veto
Hoje baila
entretido
Em seu silêncio
revestido a sorte
falseado em destino.
Processo
O cara cessou os passos do outro lado da calçada e estacou.
Do lado oposto, o outro rapaz abria o porta-malas do carro, com extrema lentidão.
Pensou que talvez algo de dentro fosse sair, só podia ser esse o motivo de tamanha discrição, por isso, cessou o caminhar e apenas observou o outro do outro lado da rua em sua pausada ação.
Mas interrompeu o caminho. Bateu o porta-malas rapidamente e tão rápido como o fizera, mirou o outro que do outro lado fazia ponto, observando a sua face, as mãos, o corpo, o todo, a ação que ainda agora quase havia se completado.
É curto o tempo em que as coisas se conhecem e apaixonam.
Mas neste caso que estou a contar, não houve nada exceto esse cara que cessou seu gesto cotidiano ao perceber ser alvo da atenção do outro.
Eles se olharam. O que será que um pensou que o outro não soube?
Não saberia dizer. Eles se olharam e tão lento o outro fazia com o porta-malas, tão lento assim ambos fizeram com seus olhos, que lentos adormecidos foram se despedindo cada par de olhos para seu novo refúgio/objetivo.
O da calçada seguiu seus passos em silêncio.
O do porta-malas abriu o porta-malas.
Separados, agora, não há motivo algum para que especular o que havia dentro ou fora (dos corações ali batentes).
Se foi um encontro? Eu diria que sim.
Embora não possa dizer mais nada, para não soar prosa forçada, nem rima vendida.
---
Entre os dedos
Era noite quando o menino subiu à poltrona branca de seu quarto e se colocou a acariciar o próprio corpo. Fazia um mês - ou quase isso - que ele havia descoberto a possibilidade de se fazer carinho e se tirar do abandono. Ele ali, mais uma vez, buscando um meio de se fazer valer. O dia foi estranho. Pensou. Hoje o dia foi estranho. Eu trabalhei tanto e mesmo assim fui sumindo no correr das horas. Os segundos se ultrapassando e eu também nisso me diminuindo, me perdendo e ficando invisível. Estava com pensamentos estranhos. Estava com pensamentos, porque fazia quase um mês - era bem isso - certos pensamentos que lhe viam - de súbito - nunca mais partiam. E ficavam. E tudo durava nele. O tempo nele se multiplicava. E hoje - tão tarde - ele sobre a poltrona branca apenas testava sobre si próprio a força dos dedos e as quinas que as unhas formavam. Pensou em dormir, em nunca mais dormir, pensou que muitas vezes pensar era tão desnecessário quanto ser, estar, respirar e ruir. Sua língua respirou. Viu o pé pedindo carinho. Desceu os dedos que coçavam o peito sem pelo e aos pés foi deitá-los. Coçou entre os dedos, entre as unhas, entre cada encontro. E nada disso tirou, exceto, talvez, pensou, talvez, exceto o sossego de se reconhecer espaço para a incomprietude.
Riu baixo e sem esforço. Amanhã seria um novo dia. Amanhã seria ele outra vez no mundo de novo.
…
Cheiro
A sua morte passou já faz tantos anos
que começo a não me lembrar
de ti
A todo e qualquer momento.
Outro dia foi seu aniversário
Quer dizer
foi o dia em que você nasceu
E isso por mim passou
sem marcar data
nem lágrima
nem sequer consciência
De um esquecimento.
O seu som diminuiu
O seu cheiro ficou lá longe
Eu hoje
trago você feito lembrança morna
e incapaz de ser ventania.
Eu escrevo isso tudo
apenas para ter ciência
De que por mais que escreva
eu nunca hei de gastar
para sempre
essa rima
que sempre
finda
em
morte.
incertamente
eu poderia te olhar
hoje e sem nenhum resquício
de ontem
eu poderia apenas te ver
sem julgar.
eu poderia te olhar
com calma
atenção
e escuta
eu poderia colocar o lençol limpo à cama
eu poderia passar outro café
jogando fora
sem hesitar
a borra fria
que desde hoje cedo
me acompanha
e escuta.
eu poderia não terminar os versos
como se eles pudessem
sempre
e de novo
nos fazer reencontrar.
eu não posso mais
achar que o que está por vir
não virá.
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Taste
My back is hurting
My body is out of the line
it’s getting dark
and older
Mouth
Ears
Lips
Everything is screaming
I drunk water
I made a coffee
I drug myself
but these noises
keep comin’
What must I do?
What must I say
if my skin knows
if my means shows
What must I ask
if everything that shines
it isn’t for me
it is not for my body.
domingo, 10 de junho de 2012
cinismo justo
eu uso as palavras mais erradas
para descrever os mais errados
absurdos.
sim,
nem todos são erros,
alguns no entanto
sobrevivem na ultrapassagem
das horas
e limites:
família
absurdo inicial
quem inventou essa lógica
de laços
extracorporais?
rompeu não rompeu?
o cordão
os cabelos
a ciranda de festas comemorativas
família nasce rompida
desde o gemido nascimento
primeiro
então
PERGUNTO
então
NÃO ESTARIA TUDO ACABADO
TUDO LIVRE PARA ERRÂNCIA ETERNA?
eu queria que sim
mas a gente se exige certas coisas
que no fim das contas
apenas dinamitam
inda mais
IMPACIÊNCIA.
deus!
eu não acredito em ti
e é por sua causa (inexistente)
que ontem minha mãe me chamou de herege.
quer dizer,
minha mãe me chamou de ateu
herege
e nem sequer me perguntou
antes disso
como eu ando fazendo desde os quinze anos para ser gente?
ser gente
assim
sem ela ao meu lado dizendo como seguir apesar de tudo.
eu quero dizer
deus
é heresia aprender a se virar sozinho?
eu não vou à missa
eu detesto o cinismo
mas sofro
as ausências sacrais
como sofre o doente a bile
a bula à embalagem
eu me dobro e tento operar
sincero
a possibilidade sempre nova
e crua
e nua
e dúbia
do embate.
ser (cínico) ou não ser (cínico)?
eis o desvão.
||
ser cego ou consciente?
me pergunto às vezes o que foi que o tempo fez com a gente?
a família hoje resta cega
sob brando filtro
incapaz de solarizar
os segundos.
me pergunto se logo eu
que não me vejo cego
se logo eu serei aquele
que comprará esta briga.
serei eu?
ou não?
que dúvida horrenda
ter ou não ter
que comprar briga com a família
com o laço
e a união?
faz dias sofro esta constante
vejo a família emburrecendo
e eu - tão esperto
me lacrando distante no adiante.
não faço parte
não consigo fazer
mas se faço
por um segundo
é preciso ser burro
ser cego
e incapaz
como posso dizer palavras tão duras
tão cruas
a quem me diz
amar demais
e demais?
excesso de amor sufoca e mata.
distância às vezes salva a plantação
salva tudo
deixa sobreviver a vida
sobre memória.
não sei,
não era para ser assim
mas se for preciso distanciar
será que conseguirei
partir
de vez
enfim?
|
dor de mãe
é a mais infeliz
deste mundo.
mãe perde a linha
e tudo fica sem costura.
se fica louca
o delírio é do mundo
não dela
se escorre pelos lábios
preconceitos mil
a culpa é da civilização
e nunca jamais
como antes
da televisão.
mãe perde a linha e dói pralém
mãe perde a linha
e desmistifica
o destino
ela corrompe o jantar
a seia
os próprios peitos
mãe corrompe não somente o seu
mas também o meu umbigo.
mãe na verdade é uma coisa complicada
nunca seria mãe
não fizesse em nós
nascer essa tremenda
dor
de cabeça.
quanto?
perdi
a conta
o visto
o número da agência
o dígito verificador
a senha
perdi a pompa.
sobrou polpa
polvo
e lula
mais nada.
quanto tempo tenho para terminar esta tragédia?
trinta tempos
a contar
de ontens.
sei lá
sei lá
sei cá
Auto
Palavras tão prontas
tão tristes
tão tontas
Respostas tão fáceis
tão frias
tão mortas
Por que me pergunto sempre
as mesmas dúvidas
impróprias?
Lapso
Volteio
Aqui estou eu
de novo
e novamente
ao meio.
terça-feira, 5 de junho de 2012
Mas se eu puder
Dizer alguma coisa
Eu então posso aguardar o quanto for
Se eu puder te escrever
Ou mesmo apenas sorrir
Eu então repleto.
Tu podes sequer chegar
Tu não precisas sequer vir
Eu aguardo
Ciente da nossa ficção.
Enquanto ela escuto
Penso que se corro tanto assim
Perderei sempre a oportunidade do jogo.
Não quero ir veloz
E não apontar o lápis
Não quero não lhe mirar
O olho.
Se corro assim tanto como faço
É só porque a correria me engoliu
e fez de bobo.
Pois é bobo aquele que não joga
O destino
Ao outro.
Não cria jogo
Não brinca quente
nem morno
É pois bobo.
Todo e qualquer ser
Alheio ao jogo.
C841
Aqui estou eu
Sobre a cadeira esperando tranquilo
Se fosse ontem
Eu não aguentaria tudo isso.
Mas hoje
A vertigem está retesada
O enjoo perdeu o acento
E ganhou calma.
Posso morrer
Mais uma vez
Só e destemido.
O tempo é livre para fazer aquilo que quiser comigo.
sábado, 2 de junho de 2012
amarrado
chega de palavras
hoje o vinho esfria
resvala nesse tempo morto
o cigarro caiu
o gato está dormente
desde cedo
que graça pode haver nesse ruído
incessante
do computador?
eu queria estar morto.
senhor,
eu queria estar solto.