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sábado, 11 de janeiro de 2025

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Com atraso descobririas que sim, tens tu também família
Não falo das amigas, gente nova reunida 
Família eu digo como mãe, pai, irmão e irmãs, tantas netas e os netos, sobrinhos tantos e tantas tias 
O que mudou? 

Como quem toma um medicamente forte, pura química 
Ontem estavas sem nervos para sustentar velhas armas 
Foste assim engolido pela lida diária 
Falaram disso e da fila do mercado 
Do fulano e seu fim nefasto 
Quanto antes já havia. 

O atraso é saldo de certeza acumulada. 
Certeza feito Deus, velha e mais que empoeirada. 
Certeza assim feito chicotada. 
Assim feito da ditadura militar à democracia e você nada, você nada.

Ser pontual num evento que você poderia simplesmente faltar.
Presente sem certezas nem embrulho, estou aqui, ela diz, o que você precisa me contar? 
Nem toda a vida será a mesma. 
A sabedoria as crianças pressentem.
Faz tantos anos desde o fatídico desencontro. 

Algo mudou. 

Agradecemos, tranquilas e sem enganos. 
 

sábado, 28 de dezembro de 2024

Força subterrânea [um excerto]

Tenho a sensação de que o final desse ano é também uma espécie de despedida. Foi um ano de lamúria e força. Força subterrânea. Alguma força que me protegeu e me fez conseguir continuar, no entanto, uma força que eu não sei de onde possa ter vindo, mas veio, me guiou e sustentou. Mas, no entanto, só o que ganhou destaque foi a lamúria, o desespero etc.

 

 
Porto, 28 de novembro de 2022

  

Suas perspectivas quais seriam?

Respondo em primeira pessoa, mesmo sem saber quais outras em mim estariam, o que mais além de mim neste eu sobrevive.

Respondo que a realização é um princípio cinético, fico todo arrepiado com esta possibilidade. Não é um retorno, não é bem uma saudade. Antes, realizar é fazer acerto de contas com a vida em sua vitalidade. 

Vive-se mesmo que sem vida pujante. Vive-se mesmo que sem vida. Vive-se mesmo que sem desejar futuros, mesmo que sem desenhar paisagens.

Tenho cá meus motivos, para ter parado de desejar. Como máquina quebrada, fábrica de si ausentada, estive aqui mesmo sem estar. Sofri, chorei, comi, gozei, repetidas vezes, mas o brilho quase nada. A baixa saturação fez em mim duas épocas: o tudo e o sempre.

Agora, honesto, sinto que estou bem mais em algo no que em tudo. Bem menos querendo apenas sobreviver e mais mesmo estou querendo compor ruas, desatar sonos, germinar sobremesas, sei do cansaço, mas sei que cansei de estar cansado, foi por quantos anos? 

Foi imenso. 

Minha perspectiva é criar. Compor. Fazer e acontecer. E isso é sem gritaria. Mas escorre a gota, do ímpeto, da muita vontade, escorre quente o desejo da comunidade de agentes que mais e melhor fazem a tal bagunça corajosa. 

Falo em primeira pessoa para falar para fora, bem fora, para falar ao que existe para além dos meus tão cansados medos. 

Sobrevivi, facto. Agora desejo. Eu agora desejo.