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terça-feira, 11 de novembro de 2025

[...] as formas de morrer

Diz que não tememos a morte

Ele apenas

Ele diz que não tememos
porque no plural
faz parecer
estar menos
sozinho

Não tememos a morte
não é bem esse o medo
Não tememos a morte
mas sim o modo
específico de suas
dores e volteios

Se se vai queimando
e em qual duração
Se unhas são arrancadas
se são 2 ou 37
dilacerações e outros se
Se será no rim
ou no pâncreas
Nos olhos
os intestinos
Se explode a barriga
no impacto surdo
Se um pulmão se afoga
antes da consciência
perder o tino

É isso que tememos
ele afirma, plural

Tememos as formas de morrer
não a morte, afinal
Tem sido com constância
que a morte meneia
Sua cabeça para mim
quero dizer
Para nós
nós
Ele diz
que a morte nos acena

E por hoje é isso
não queremos saber dos detalhes
não quero morrer, ele pensa
quero morrer, mas não é isso
não quero é acidente
abrupto-desesperado
de coisa escandalosa
quero que seja após ter jantado
e sem ter perdido tempo cortando
as unhas
antes do fato.
 

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Buraco na comunicação

Não, não desculpe
Não, não outra vez
Não desculpe
Não continue
Não era para ser assim tão imperativo
Não

Acontece que não é a primeira
Não é novidade
Não é ausência de saber prévio
Não é nada disso
Você sabe, você sabe, então
Não

Você fez a escolha
Você fez péssimo uso da nossa intimidade
Você fez nascer outro poeminha
Moendo o horror da amizade
Você fez esse poema
Este poema é de sua inteira responsabilidade

Em mim brotou um cansaço
Que força maior não poderia ter
É cansaço bruto, parrudo, cheio de glúten
É cansaço puro, mas honesto
Não cínico como seus provisórios
Ajustes

Ok?
Perdão, ok?
Vamos falar?
Vamos falar ok?
Vamos falar, ok?
Vamos?

Não.

Você não disse.

Você não veio.

Você nada falou.

Você me feriu
E no ponto em que cheguei
De você
Sobrou apenas este
Horror (da amizade).
 

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Escasso


Das imaginações
sobre o que viria
depois do corte

nada veio.

Das hipóteses
especulações essas
palavras bonitas

indicativas de possibilidades

também não.

Estava tão preso
no hábito
que desaprendeu
ser sonhador.

E quando perguntado
se ele imaginava
para onde iria
caso tudo acabasse

ele desabou.

No chão
onde mais
onde iria
onde estou?

O amor também tem seus sonos

Uns duram mais do que os dias

Outros também.